18. O Inferno de Bernardo.
- willian chiaq
- 10 de jan. de 2017
- 19 min de leitura
A tarde está ensolarada, 34 graus. Crianças brinca com mangueira quase na frente da casa de Alice, o condomínio de luxo está com a grama mais verde e macia do ano.
Wanda sorridente parada como uma estátua na porta da residência dos Ferreira, por alguns instantes as duas parecem se analisar.
Alice não sabe o que, mas algo está diferente, a temida doutora do dia do evento do último sábado não está tão amedrontadora como antes, a garota até sente confiança para responder o comprimento.
- Boa tarde, doutora?
- Isso mesmo, que bom, acho que lembra de mim. – Wanda sorri se aproxima e cumprimenta a garota com dois beijos no rosto. – Mas pode me chamar Wanda.
Alice não desvia, se sente segura para receber o cumprimento.
- Wanda? Mas o que a senhora está fazendo aqui?
- Em primeiro lugar a senhora está no céu e vim pedir um xicara de açúcar emprestado.
- Uma xicara de açúcar?
- Claro que não bobinha, só estou brincando.
Norma finalmente sai do quarto e vai até porta ver com quem a filha conversa.
- Quem é filha? – Norma dá um pulo para trás quando identifica Wanda. – Dra. Albuquerque, que surpresa boa e inesperada, o que devemos o prazer da visita?
- Por favor me chame de Wanda, estava em casa sem fazer nada e liguei para Aninha e perguntei se ela conhecia pessoas legais para conversar e ela me deu seu endereço.
- A Ana? – Norma acha aquilo tudo muito estranho. – Bom, mas não fique parada aí na porta, venha, entre, vamos para o jardim.
Alice sente que está sobrando e sai disfarçadamente para seu quarto mas é travada pela voz de Wanda.
- Onde vai querida?
- Eu?
- Sim, você mesma.
- Vou deixar vocês conversando mais a vontade a sós.
- Não Alice, de jeito maneira, você vem com a gente, gostaria de saber mais sobre você e faço questão, você vem não é?
Norma toma frente e diz:
- Claro Dra, Alice não fará uma dispensa dessas para você, claro que ela vem com a gente.
Norma vai até sua filha a pega pelos ombros e a conduz até o jardim. Alice faz uma cara feia de chateação que mal é percebida por Norma mas não escapa de Wanda.
No carro de Tiago Albuquerque em algum lugar do centro...
- Parque Nascentes do Belém, você tem certeza que sabe onde é garoto? – Tiago está dirigindo o carro, no carona está Billie e no momento Tiago está fazendo essa pergunta para Robert que está no banco de trás.
- Certeza? Claro, meus amigos já vieram várias vezes.
- Os bruxa Cuca, Manson?
- Espera, você nunca foi nesse parque? Você disse que o conhecia bem. Bruxa Cuca?
Robert nunca foi e nem imagina como é o tal parque mas sabe que a garota “bruxa” que está ficando frequenta esse parque.
- Na verdade eu nunca fui, mas meus amigos falam tanto desse lugar que até me sinto como se vivesse nele.
- Entendi, mas bruxa Cuca? – Billie ri.
- Bobagem desse doido, nada ver, mas pense o senhor tio, que maneiro conhecer um lugar novo.
- Garoto, nós somos de São Paulo, tudo aqui é novo.
- Detalhes, confie em mim.
- Mas Manson, tem quadra para jogar bola certo? – Diz Billie descrente a palavra do amigo.
- Se tem? Mas é claro que tem, é uma “puta de uma quadra”.
- Beleza, mas para onde agora? – Pergunta Tiago.
- Pra onde o que? – Pergunta Robert.
- Eu viro, sigo em frente? – Gesticula Tiago.
- Já passamos do tal de Abraches? O cemitério?
- Já.
- Se não me engano vai até um viaduto.
- Eu acho que teria sido melhor ter ido pelo centro pai. – Diz Billie.
- Seu amigo aqui disse que pela rodovia era mais rápido.
Tiago está um pouco sem paciência, queria que fosse um momento pai e filho mas quando Billie ligou para Robert para pedir indicação de um parque, Tiago fez o erro de perguntar por educação se Robert gostaria de ir junto e infelizmente o esbulhado aceitou.
No parque Tingui...
Uma música perfeita para esse momento seria “a cera do Surto”.
Bernardo está envolto em frenesi, nada importa em quanto beija Jessica, o mesmo não ocorre com a garota.
Os sorvetes em ambas as mãos escorrem melecando tudo, interrompendo o beijo quando percebem. Bernardo limpa a mão em seu calção de forma desajeitada e apresada, a garota passa a mão na grama.
- Mãos limpas, vamos continuar de onde paramos. – Diz Bernardo arcando seu corpo em direção a garota.
- Não, calma Bernardo, olha que nojeira o estado das nossas mãos, vamos terminar o sorvete, limpar as mãos e conversar um pouco.
- A gatinha, conversar por que? O que?
- Ué Bernardo, a vida não é só beijar. – Jéssica se levanta e vai até um vendedor de água de coco que passa por ali, seu motorista a companha de longe.
Bernardo se levanta e vai atrás da garota, ela come de forma apressada o resto da casquinha do sorvete.
- Sei lá não vejo motivo para conversar se podemos fazer algo melhor.
Jessica para na frente do vendedor de água de coco.
- O senhor tem água mineral?
- Tenho. – Responde o velho.
- Duas por favor. – Jessica levanta o braço e dá sinal para seu motorista que se aproxima rapidamente com a mão no palito buscando sua carteira.
Jessica se vira e sem agradecer o vendedor vai até uma sombra de árvore.
- É verdade ou não é verdade?
- Não né Bernardo, temos muito o que conversar e coma logo esse sorvete.
- Cara, se parece minha mãe, rápido com isso Bernardo e mi mi mi. – Bernardo faz um tom de voz agudo tentando satirizar sua mãe.
- Vai Bernardo acelera. – Bernardo enfia o resto da casquinha em sua boca, Jessica dá a garrafa de água em sua mão. – Despeje um pouco na minha mão para eu poder lava lá, você é o próximo.
Na casa de Alice...
Estão sentadas nas cadeiras brancas de ferro no jardim envolta de uma mesa Norma, Alice e Wanda, apenas conversa, pois a empregada não está em casa então não tem ninguém para preparar um lanche ou chá da tarde.
Norma estranha a visita repentina mas trata a doutora como se fosse uma rainha, Alice está totalmente chateada e com vontade de sair dali. Norma não vê a hora de ficar sozinha com Alice para poder começar a botar seu plano em ação.
O papo está tão chato que Wanda começa a botar subliminarmente seu plano em ação.
- Vocês sabem que estou querendo pintar minha casa, vocês podem me ajudar?
- Ajudar você Wanda? Como assim? Quer o número de algum pintor ou algo do gênero? – Diz Norma embasbacada.
- Não, olhem isso. - Wanda tira alguns mostruários de cores e divide entre mãe e filha. – Olhem e me digam o que acham.
- Na verdade acho meio estranho escolher algo tão pessoal como a cor da casa de alguém que nem conheço, nem ao menos sabemos seus gostos. – Diz Alice.
- Concordo filha, isso é uma escolha muito pessoal Dra. – Diz Norma.
- Não, é que vai que gosto das suas ideias. – Diz Wanda.
Mãe e filha começam a olhar o mostruário, que vai da cor mais clara para a escura. Conforme Alice vai vendo as cores seu coração vai palpitando sentindo o tom mudar e chegar rapidamente ao azul marinho, ela vai perdendo os sons em sua volta, seus movimentos são involuntários e seus olhos estão fissurados naquelas cores. Wanda observa tudo atentamente, vê Alice temendo e começando a suar frio e acha melhor fazer algo para tentar tira lá daquele estado.
Wanda tosse de forma grosseira e funciona pois Alice de imediato chegando ao azul claro joga o mostruário em cima da mesa do jardim, Norma parece não perceber.
- Quer saber, mudei de ideia, acho melhor isso daqui. – Wanda tira duas folhas com o desenho do suposto interior de sua casa. – Que tal vocês pintarem a minha casa?
Ambas se olham, mas obedecem Wanda que entrega uma caixa de lápis de cor para cada uma delas. Quando Alice abre sua caixa, a arremessa para longe ao perceber que todos os lápis daquela caixa são azul marinho.
- Filha, o que é isso? – Diz Norma.
Alice fica sem reação.
- Eu vi, foi uma abelha ou sei lá o que, não é Alice? – Alice apenas acena com a cabeça confirmando a versão Wanda. – Podem continuar, tenho outra caixa de lápis aqui, vou pegar os lápis que Alice derrubou. – Dessa vez os lápis que Wanda entrega para Alice são de cores variadas, apenas faltando os tons de azul escuro.
Em uma rodovia no carro de Tiago...
- Ok, o viaduto e agora? – Diz Tiago.
- Não passa por de baixo, entra ali pela direita. – Diz Robert.
- Tá e agora?
- Bom, eu sei que na próxima a gente entra na esquerda e depois a direita em algum lugar.
- Você sabe mesmo onde estamos indo Manson? – Diz Billie.
- Claro, claro.
- Tá beleza, entrada a esquerda e agora, devo entra nessa primeira a direita? – Pergunta Tiago.
- Não, nessa não, espera, sim, nessa sim, pode entrar sem medo de ser feliz. – Diz confuso Robert.
O carro entra por uma rua de chão batido, sobem a rua, uma subidinha do lado de um bar, passam por um casal de velhinhos que estão mexendo em seu jardim no subúrbio. Logo a uns duzentos metros veem três garotos sentados em uma calçada do lado de fora do terreno.
Depois de passar pelos garotos Tiago para o carro e dá a ré.
- Por que está voltando pai?
- Vou pedir informações para aqueles garotos, quem sabem eles não possam nos indicar o caminho. – Robert ouve Tiago e não fala nada, fica calado.
O Honda Civic preto para ao lado dos três meninos.
- Oi garotada tudo bem? Vocês podem me dar uma informação?
Os três garotos, um moreno de pele escura, um loiro de olhos azuis e um moreno de pele clara.
- Pode falar. – Responde o moreno dando entender ser o “líder do bando”.
- Parque Nascentes do Belém, sabem onde fica?
- Não é o da Barreirinha? – Pergunta o menino loiro.
- Claro que não seu burro, é aquele que é bem parado. – Responde o moreno de pele clara.
- Se fosse o Barreirinha eu sabia. – Diz o loiro.
Tiago e Billie olham atentos para os meninos que tem mais ou menos sua idade. Robert está de saco cheio e diz bem baixinho:
- Vamos de uma vez, esses moleques não sabem de nada.
O menino loiro e o moreno de pele clara escutam e ficam o encarando. Na casa atrás dos meninos, um sobrado de madeira, na janela aparece uma figura sem camisa.
- Nascentes? É fácil, você pode ir reto, vira a esquerda, ir até o asfalto ou subir antes a direita depois da decida, quando chegar no asfalto vire a direita, passa a rotatória e segue que dai é só pedir alguma informação que já vai estar lá. – Diz o garoto moreno de pele escura.
O Homem que estava na janela se aproxima pela lateral da casa com uma enxada na mão.
- Assim, obrigado meninos. – Tiago começa a tirar o pé da embreagem mas decide perguntar uma coisa. – Garotos, como é a vida aqui?
Os três se encaram.
- Legal, aqui morre um monte de gente diz o loiro de olhos azuis.
Tiago faz uma cara estranha de espanto e quando vê o homem com a enxada arranca o carro.
Os três garotos ficam conversando, os morenos dão tapas na cabeça do loiro.
- Pra que falar isso, nossa, o cara queria informação. – Diz o moreno de pele escura.
- Não podia perder a chance de fazer essa piada. – Responde o loiro.
- Burro, o cara ficou assustado. – Diz o moreno de pele clara.
- Mas você viu o que aquele piá no banco de trás disse? – Diz o loiro.
- FILHO, QUEM ERA AQUELE CARRO!!! - Diz bravejando o homem com a enxada.
- Queria informação pai. – Diz o moreno de pele clara.
- VOCÊ NÃO TEM QUE DAR INFORMÇÃO PRA NINGUÉM. – O homem dá as costas e volta dentro da casa.
- Vocês viram as camisetas deles? – Diz o moreno.
- Ví eram de rock, iradas... – Vai continuando o loiro.
No carro de Tiago, eles já passaram pela rotatória e seguem.
- Robert, você errou, desrespeitou aqueles garotos no lugar deles, você não deve fazer nunca mais isso. – Diz Tiago.
- Nada ver, eles só fizeram a gente perder tempo, eu sei o caminho.
- Mesmo assim, você entrou no lugar deles e os desrespeitou, isso tá errado cara. – Repreende mais uma vez Tiago.
- Meu pai tem razão, vacilou nessa Manson.
Após passar por um supermercado e um açougue eles veem um vendedor de cana e um grande gramado verde.
- Olha aquele vendedor, perguntem pra ele. – Diz Robert.
- Achei que você sabia o caminho. – Ironiza Tiago.
No parque Tingui...
- Então tá, vamos conversar então. – Diz Bernardo.
- Tá, primeiro, qual os nomes dos seus pais? – Diz Jessica.
- Meu Deus do céu olha o que ela quer conversar, pelo amor de Deus. – Bernardo perde a calma e bota as mãos na cabeça.
- Ué, o que tem de mais? Conversar sobre o que então?
- Que conversar garota? Vamos para a ação de uma vez.
- Bernardo... – Diz Jéssica com uma cara séria.
- Tá bom, você já beijou muitos caras? – Bernardo muda o tom, sabe que Jessica está braba e que não pode vacilar.
- BERNARDO???
- O QUE? Ué, estou mudando de assunto.
- Mudando de assunto? Pergunte de uma forma mais delicada, tipo...? Já sei, minha vez, já namorou alguma vez? – Jessica faz animada a pergunta.
- O que? Eu? – Bernardo nunca namorou, só avia ficado com duas garotas, uma no shopping e outra em uma virada de ano na casa de praia de algum amigo de seus pais.
- Sim você.
- Você primeiro gatinha. – Bernardo Sorri.
- Bom, eu já namorei umas duas vezes, mas nada sério, se namorasse de novo gostarei de apresentar para meus pais, você aceitaria conhece los Bernardo?
- Que? Conhecer seus pais? – Bernardo está muito nervoso. – A, qué sabe, eu não sei de nada, você fica fazendo pergunta atrás da outra, eu nem sei o que respondo. – Bernardo deita na grama e se vira de lado, de costas para Jessica.
O silêncio prevalece por uns dez segundos.
- Kuuurrtt? – Jessica tenta chamar atenção de Bernardo. – Kurt... Kurtizinho? – Jessica consegue chamar sua atenção quando começa a acariciar suas costas.
- Huuum. – Murmura Bernardo.
- Kurt.
- O que que foi?
- Você não respondeu minha pergunta, quantas meninas você já namorou? – Bernardo sua frio e não sabe o que responder.
- Não sei, sei di, direito perdi as contas. – Diz Bernardo gaguejando.
- Perdeu as contas? Então foram muitas?
- Nada meio sério, só algumas...
- Mas por baixo, quantas?
- Não sei, sete eu acho?
- Sete namoradas? – Jessica se espanta, Bernardo se levanta e com um grande sorriso no rosto fala:
- Isso ai, sete, fala sério, sete namoradas eu sou “o cara”. – Bernardo está convencido.
- Não, isso quer dizer que sete garotas terminaram com você por que não te aguentaram seu convencido. – Jessica está irritada.
- Não, Nã... Eu que terminei com todas.
- Entendi. – O silêncio volta, e depois de dez segundos. – Bernardo, o que nós estamos fazendo?
- O que?
- Estamos namorando ou não?
- Namorar com você Jessica?
- Sim, namorar comigo.
- A, eu vou pensar no assunto e te dou a resposta. – A resposta de Bernardo deixa Jessica totalmente irada.
Na casa de Alice...
- Já terminaram? Estou ansiosa para ver o resultado final. – Wanda está com um grande sorriso no rosto.
- Estou quase, e você filha? – Diz Norma.
- Ai, colorir é tão chato, ainda faltam duas paredes. – Diz Alice bem entediada.
- Está aqui doutora, o que acha? – Norma dá o desenho nas mãos de Wanda.
- Norma, por favor, me chame Wanda, estamos na sua casa, já somos amigas. – Wanda olha atentamente, o desenho tem tons turquesa com branco, móveis tabaco com preto. – Nossa, vi que vim ao lugar certo, você tem um ótimo gosto mesmo.
- Sério? Obrigada, fico lisonjeada.
- Sabe o que seria bom para encerrarmos bem nosso encontro? Um suco.
- Um suco? Nossa doutora, é verdade, nem percebi que não tinha servido nada, olha, a empregada não está em casa mas vou fazer o melhor que puder, já volto. – Norma se levanta e entra na casa.
Wanda espera Norma sair do seu campo de visão completamente e puxa assunto com Alice.
- Já terminou Alice?
- Ainda não, falta uma parede e meia.
- Tudo bem, já posso ter uma noção, pode me entregar o desenho.
- Ufa, ainda bem, não aguentava mais. – Alice entrega o desenho para Wanda.
Paredes laranjadas com destaques em bordô e móveis em amarelo claro.
- Legal, não gosta de azul marinho?
- Azul marinho? Sei lá não tenho nada contra por que? – Wanda tira de sua bolsa uma folha azul marinho e coloca em cima da mesa.
- Olhe essa folha Alice, ela lhe agrada? – Alice magicamente se concentra na folha e as palavras de Wanda parecem longe na sua cabeça, sua mão começa a tremer um pouco mas ela consegue empurrar a folha a jogando da mesa e quando esboça se levantar Wanda deixa sua voz forte. – Alice parada, sente se. – Alice obedece. – Sabe, o tempo nos traz muitas coisas, experiências e algo que aprendi é que se algo nos incomoda é só nos livrarmos dele. – Wanda se agacha e pega o papel. – Olhe atentamente garota. – Wanda rasga devagar a folha pela metade e acelera no processo da outras partes e depois segura firme com sua mão fechada. – Olhe, eu sou mais forte que o problema e eu posso supera ló, ele só me incomodava por que deixava, agora não me chateia mais, sou mais forte agora que me livrei dele.
Alice observa tudo com os olhos bem abertos e parece de Wanda destruiu uma pequena parede na sua cabeça. Norma sai de dentro da casa segurando uma bandeja com suco e outra com biscoitinhos.
- Espero que goste de suco de abacaxi querida.
- Que isso, eu amo abacaxi Norma.
Alice fica pensando longe na atitude de Wanda.
No carro de Tiago...
O carro encosta ao lado de uma grande cerca de palitos, um vendedor de caldo de cana está com sua carrocinha parada para do lado da grande cerca.
- Boa tarde moço, tudo bem, você poderia me dar uma informação? – Pergunta Tiago.
- Opa claro que sim, já sei, quer saber quanto é o caldo de cana certo? – Diz o homem velho sorridente.
- Não amigo, fica para outra hora, mas, esse é o parque nascentes do Belém?
- Parque? Não, o parque fica ali na frente, esse aqui é o cemitério jardim da paz.
- Cemitério?
- Sim cemitério, o parque faz meio que divisa com ele.
- Nossa, mas que cemitério mais bonito, esse gramadão, nem parece que tem túmulos aí.
- É que de dentro do carro não dá para ver mesmo, mas daqui dá pra ver bem.
- Interessante, mas como dizia? Onde fica o parque mesmo?
- Ali na frente, passando a ciclovia entra a direita, segue reto por uns cento e cinquenta metros e está lá. – Diz o vendedor apontando com as mãos.
- Ok, muito obrigado.
Tiago já solta o freio de mãe e se prepara para sair com o carro quando o velho diz:
- Moço, desculpa a intromissão, mas o que vocês vão fazer lá?
- Nós vamos jogar um futebol, brincar um pouco. – Diz Tiago sorrindo.
- Jogar bola? Olha moço, acho que nunca foi lá antes certo?
- É, nunca fui por que? – Tiago aciona o freio de mão novamente.
- Não tem nada nesse parque, é só uma caída com uma ponte, mirante e a bendita nascente do rio.
- Sério? Você tem certeza disso?
- Oxe, faz anos que trabalho aqui, tenho certeza, mas se quiser arriscar pode ir , mas se quiser ir para um outro parque um pouco melhor para jogar bola, tem o da Barreirinha, fica a poucos quilômetros a esquerda antes do sinaleiro.
- Ok, vamos ver o que vamos fazer, muito obrigado.
- De nada moço, não querem uma cana mesmo?
- Não, não fica para próxima, valeu. – Tiago arranca o carro. – Então seu Robert?
- A, vocês vão acreditar nesse velho, ele deve estar gagá, nada ver eu conheço o parque, vamos lá que vocês vão ver.
Após algum tempo dirigindo eles chegam no parque e o vendedor de caldo de cana tinha razão, uma caída com uma ponte, mirante e a bendita nascente do rio.
- Então seu Robert, o velho estava gagá? Nem estacionamento esse parque tem.
- Nascentes do Belém? Eu disse isso? Eu quis dizer São Lorenço. Vejam bem, eu não errei, apenas me enganei um pouco. – Diz Robert.
- Quer saber pai, valeu a intensão, vamos nessa. – Diz Billie. – Você um vacilão Manson.
Robert abaixa a cabeça e não diz nada. No caminho de volta Tiago decide seguir o caminho contrário. Quando vê o primeiro sinaleiro olha a esquerda e vê o parque da Barreirinha que o vendedor avia falado.
Tiago entra com o carro no estacionamento.
- Pai? Achei que íamos para casa. – Diz Billie.
- Ainda devemos ter quase uma hora de sol, vamos aproveitar um pouco. – Tiago sorri.
- É pai, bem que percebi que você estava fazendo um caminho diferente.
Todos descem do carro e após explorarem o parque um pouco descobrem que não tem um campo de futebol, mas tem uma quadra de vôlei de areia sem rede, acham uns galhos e fazem um gol e começam a jogar. A noite chego rápida aquele dia.
Parece uma coisa boba, mas essa lembrança nunca saiu da cabeça dos três e nem de um daqueles três meninos.
No parque Tingui...
O motorista abre a porta para a jovem patroa entrar do lado esquerdo do carro no banco de trás, Bernardo entra do lado oposto.
- Gatinha, por que você está brava? – O silêncio prevalece no carro. – Meu Deus Jessica como você é chata.
- Eu não sou chata senhor Bernardo.
- Então qual é gatinha, sério a mó tempão se não fala nada caramba, eu fico chateado assim.
- Ai que dó de você. – Jessica diz em um tom áspero.
- Jessica, pelo amor fale o que eu fiz?
- Você deve se achar muito, mesmo né? Se acha e nem é tudo isso.
- Olha quem fala.
- BERNARDO, O QUE DISSE???
- Eu sou mesmo mala, sabe eu, você me conhece, mas sério o que eu fiz?
- A, bom mesmo que você não disse o que pensei ter ouvido. – Jessica vira para o vidro e cola os olhos na paisagem.
- Sério mesmo fala, por favor.
- Essa história Bernardo de você falar que vai pensar se vai namorar.
- A isso, nossa, ainda bem, achei que era algo mais importante.
- Mais importante? BERNARDO!!!
- Gatinha, eu tenho namorada?
- Não que eu saiba.
- Então, está aí sua resposta?
- Ai Bernardo, eu não entendi. – Jessica fica confusa.
- Se eu não tenho namorada então namoro com você, é melhor ter uma namorada que ficar sozinho.
- Jura?
- O que jurar? Precisa isso?
- Ai seu bobo claro que não, você não sabe o quanto estou feliz com sua resposta.
- Ué, é melhor ter uma namorada do que nenhuma. Mas já vou falar, vamos com calma com esse negócio de apresentar para os pais.
- Tá bom, agora vem cá, vamos aproveitar o tempo que nos resta. – Jessica não concorda com o termo de apresentar os pais, mas sabe que pode mudar a cabeça de Bernardo com o tempo então não fala nada.
Os dois se beijam até chegar na casa de Bernardo e ainda ficam por mais quinze minutos dentro do carro parado na sua porta.
Na casa de Alice...
- Bom meninas, me diverti muito hoje, o suco estava divino e os biscoitinhos também, espero que possa pagar na mesma moeda para vocês qualquer hora. – Diz Wanda sorrindo.
- Nossa Wanda, que bom que gostou querida, claro eu não tenho a mão da minha cozinheira, mas engano um pouco, espero que tenhamos ajudado nas cores da sua casa, vou aguardar com ansiedade o dia de conhecer sua casa para ver se usou nossas ideias. – Diz Norma sorrindo, Alice não fala nada, parece estar digerindo o que aconteceu.
- Vai ser um prazer, bom, mas agora tenho que ir para casa, já está ficando tarde.
- Mas já querida?
- Sim, já vou indo, tomei muito do seu tempo por um só dia.
- Wanda aquele desenho era mesmo da sua cozinha?
- Sim, era, gostou?
- Amei, muito linda mesmo. – Diz Norma.
Wanda na verdade está mentindo, imprimiu um desenho qualquer do “google”. Mãe e filha acompanham com passos lentos a inusitada convidada até o carro, estão jogando conversa fora.
- Bom, é isso, tchau meninas, espero as ver em breve. – Diz Wanda já com as chaves do carro na mão.
- Foi um prazer querida, não é Alice? – Norma encara sua filha que apenas acena com a cabeça.
- Mas antes de eu ir, deixa eu dar uma coisa para vocês. – Wanda tira dois cartões do porta luvas do carro e entrega para as duas. – Esse é meu número pessoal, qualquer coisa me liguem, até se quiserem jogar conversa fora.
Wanda entra no seu carro, arranca. Alice vai mais para borda da rua e duas palavras saem da sua boca em um tom mais alto:
- Tchau Wanda.
Mãe e filha entram na casa e Alice vai tomar banho e depois fica encarando aquele número, fica extremamente tentada a ligar, até que escuta seu telefone tocar. Pelo identificador de chamada vê que é Bernardo a ligando.
- Alo Bê...
Na casa de Billie.
Wanda chega em casa com duas sacolas, as deixa na mesa da cozinha e vai direto para o quarto onde encontra Tiago deitado na cama.
- Oi gostoso.
- Boa noite Wanda, isso são horas de chegar em casa. – Wanda o cumprimenta com um beijo.
- É que você sabe como são as coisas, o clube das mulheres estava lotado e o dançarino que queria uma dança particular estava bem requisitado.
- Ha ha ha, engraçadona. – Tiago faz um cara de ironia, se senta na borda da cama.
- Como foi a tarde com o John? – Wanda sentasse no colo de Tiago.
- Pense na furada, levamos aquele amigo dele de cabelo ensebado e disse que conhecia um parque e no final não tinha nada lá. E sua pesquisa?
- Ótima, com as informações que coletei já posso traçar com mais exatidão o perfil de Alice e já tenho uma ideia do diagnóstico dela, é questão de tempo até descobrir o motivo do trauma.
- Mas amor, isso não vai tomar seu tempo? Sabe com aquele seu trabalho com o “Grandão”.
- Não amor que isso, o ser já desmarcou a consulta barra visita duas vezes e está fora da cidade. Mas em fim, passei em uma barraquinha de dog porreta, vamos comer? Onde está John?
- No banho, aliais você precisa de um também, eu estou todo cheirosinho e você aí toda suada.
- A, é assim então?
- Claro, minha vingança, lembra daquele dia que praticamente me chamou de fedido, então, sou um homem mal e aqui está minha vingança moça. HA HA HA. – Tiago faz uma risada exagerada.
- Tudo bem, mas vingança é um prato frio moço, pode deixar, vai ter volta. – Wanda se lenta do colo de Tiago e vai para o banheiro, claro que estão brincando, é muito bonito ver a harmonia e a alegria desce casal...
Em uma linha por aí...
- Oi gatona beleza.
- Tô bem, meio cansada, recebemos visita aqui em casa hoje, tive que ficar fazendo sala a tarde toda. – Diz Alice para Bernardo com a voz cansada.
- Puxa que chato, odeio quando isso acontece.
- Mas e você Bê? O que fez de bom hoje?
- Olha Ali, é bem por isso que te liguei, um assunto seríssimo.
- O que aconteceu?
- É um grande segredo...
- O que Bê???
- Você tem certeza que vai suportar?
- Fala Bernardo, estou ficando impaciente. – Alice fica meio brava, sinal disso é chamar Bernardo pelo nome e não pelo apelido carinhoso de Bê.
- Tá bom eu falo, Alice, eu sou o Batman.
- Tongo.
- Há há há. Bernardo ri na cara de Alice.
- Eu já estava ficando preocupada achando que era algo sério.
- Tá bom Alice, vou falar a verdade, liguei pra você pra falar algo sério que gostaria que fosse a primeira a saber.
- Lá vem outra brincadeira boba.
- Não, não, agora é sério mesmo, eu meio que, que, que tô amarrado. – Bernardo fala com medo pois é apaixonado por Alice desde sempre, ele não sabe direito o motivo de ter aceitado namorar com Jessica, talvez ele tenha esperança de causar ciúmes no seu primeiro amor.
- Amarrado? Como assim Bernardo? Eu não estou entendendo nada.
- Tô namorando. – Bernardo fala rápido e se cala.
- Ah sim, com a Mulher Maravilha ou com a Batgirl?
- Gata, é sério, com a Jéssica.
- Espera, sério mesmo? – Alice se levanta e agora está sentada na cama.
- Sim, é verdade.
- Nossa Bê que noticia maravilhosa, espetacular. – As palavras de Alice vão fundo no coração e na mente de Bernardo. – Sua primeira namorada, que bom, dou muita força pra vocês, que sejam muito felizes, sério Bê você animou minha noite, é sério mesmo?
- SIM ALICE, SIM, já falei que é verdade.
- Nossa Bê, eu e as meninas já suspeitávamos que vocês estavam de rolo, por que víamos vocês conversando direto e até perguntamos pra o Tito, mas ele não quis dizer nada, meu Deus, eu tenho que ligar pra Aline e pra Bel para contar as novidades.
- Nossa Alice, pra que tanta empolgação? Bom, não interessa, queria que fosse a primeira pessoa a saber e agora você já sabe, tchau Ali, boa noite. – Bernardo está desanimado e triste com a animação de Alice.
- Mas já Bê? Mas tá bom, eu preciso contar para as meninas. Boa noite Bê. – Depois de uns dois segundos Alice fala: - Bê?
- O que gatona? – Alice sabe que Bernardo sempre espera ela desligar o telefone.
- Agora dá para fazermos programas de casais, eu com o Kevim e você com a Jéssica, podemos combinar de sair juntos.
- Boa noite Alice. – Bernardo solta voz com um fio e desliga o telefone, é a primeira vez e última que ele faz isso com Alice, ele sempre espera ela desligar.
Alice estranha um pouco mas não se importa muito, pega o celular e de imediato liga para Bel para contar a novidade.
Bernardo deita na cama virasse para o lado direito e sem saber por que começa a chorar e acaba pegando no sono.
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