20. A Iniciativa Corvos.
- Willian Jorge Chiaq.
- 24 de mar. de 2017
- 21 min de leitura
- No que pensaram? – Pergunta Bernardo.
- Olha, não queria ferrar o goleiro ou os outros moleques que não tinham se envolvido na briga, mas ferrar o goleiro é essencial. – Diz Billie.
- Por mim nóis ferrava todo mundo. – Diz Robert.
- Não cara, não seria justo, e os moleques até vieram falar comigo depois da briga pra dizer que não tinha nada contra mim. Vamos ferrar só os péla e infelizmente o goleiro vai ser o efeito colateral, mas vou aliviar as coisas pra ele.
- Mas no que pensaram? – Pergunta Bernardo.
- Vamos por pó de mico na luva do goleiro e nas roupas dos jogadores e no gesso do Kevim. – Diz Billie.
- E como faremos isso? Pó de mico existe de verdade? Sempre achei coisa de desenho animado. – Diz Bernardo.
- Depois que acabar a aula eu e Manson vamos para o centro procurar, deve ter em lojas de produtor para festa ou lojas de mágica e pegadinhas.
- Isso aí, mas não conhecemos lugares do tipo e como Billie não é daqui achamos que você talvez pudesse conhecer algum lugar. – Diz Robert.
- Hummm. Cara perto do acho que é museu tem várias lojas de festa.
- Oscar Niemeyer? – Pergunta Billie.
- Não, aquele perto da “quinze” em algumas galerias eu acho.
- Tem museu lá??? – Pergunta Robert.
- Nossa cara, isso que você nasceu aqui, mas já que é perto da quinze eu me acho. Sabe onde é a quinze né Manson.
- Claro, lá que tem as “queridas”.
- Billie, sabe aquele Mc que te levei aquele dia e você não quis almoçar?
- Sei, acho que me lembro Kurt.
- Então lá é a rua quinze, o museu é uma quadra pra cima, é continuação da rua das flores.
- Ok, eu me acho então, valeu Kurt. – Agradece Billie.
- Eu vou junto. – Diz Bernardo.
- Não cara, fica de boa curtindo sua namorada um pouco, mas depois nos encontramos na sua casa, pede pra sua empregada guardar dois pratos de comida pra gente que vamos almoçar lá. – Diz Billie.
- Vai nessa. – Diz Bernardo achando que se trata de brincadeira.
-Não, sério só tenho grana pra gente ir, voltar e comprar a parada, não tenho grana para almoçar no centro e o Manson também tá liso, e na sua casa elaboramos melhor o plano.
- Ok, tudo bem. – Diz Bernardo.
- Eu vou levar o Billie lá no largo tomar um chop no “Alemão”. – Diz Robert.
- Leva bosta nenhuma, não tem nem grana e nem idade pra entrar no alemão. – Diz Bernardo
- Pior, to duro. – Diz Robert.
- Acho que você não tem grana nem pra comprar poesia de um punk cara. – Diz Bernardo sorrindo.
- Pior que é verdade mesmo. – Concorda Robert rindo junto com seus dois melhores amigos.
Logo bate o sinal do termino do intervalo e logo bate também o sinal do termino do dia letivo as 11:55h da manhã.
- Vamos nessa Manson que o tempo tá correndo velho. – Diz Billie jogando se material de qualquer jeito dentro da mochila.
- Calma a e Billie. – Robert conversa com uma garota da sua sala. – Susi valeu, to morrendo de fome.
- Pode levar Robert.
- Sabe eu não vou para casa e...
- Não precisa se explicar, eu entendo. – Diz a bela menina de óculos entregando um pequeno pacote, algumas notas menores e moedas.
- Vamos nessa Manson meu filho. – Diz Billie.
- Então tá, tchau Susi. – A garota se curva esperando ganhar um beijo na boca mas Robert a beija no rosto. – A gente se vê, até amanhã. – Diz o garoto saindo como uma bala na frente de Billie.
Billie fica perplexo por Robert não ficar com a garota. Os garotos vão andando pela rua e um silêncio incomum fica entre os meninos.
- Manson, o que houve lá atrás? – Pergunta Billie.
- O que?
- Você sabe, com aquela garota lá na sala. – Suzana?
- A Susi? O que tem ela? – Diz Robert tentando disfarçar.
- Sim cara, pareceu que ela queria ficar com você e sei lá parece que você fugiu. E o que ela te deu?
- Neura sua Billie, nada ver cara ela é só minha amiga, ela me deu umas bolachas e uns trocados. Só minha amiga.
- Eu não disse que era algo diferente, você que está se entregando cara e você estava falando que estava com fome e nem comeu os biscoitos. – O silêncio retorna por mais alguns instantes. – Se abre aí cara.
Robert dá um longo suspiro.
- Cara, a Susi gosta de mim, mas acho ela bacana...
- Então, o que se tá esperando? Fica com ela. – Diz Billie interrompendo o amigo.
- Não é bem assim velho. Não acho que daria certo, ela me ajuda, faz minhas lições, coloca meu nome nos trabalhos mas não a vejo de outro jeito que não seja como amiga.
- Que merda é essa? Você só saberá se vai dar certo só se tentar.
- É tenso Billie, ela é toda quietinha e eu sou todo acelerado, sou mais da rua do que outra coisa. Já fiz e fui a mais lugares do que um homem de trinta anos faria. Já fiquei bêbado sozinho no centro e não fui assaltado, já vi gente morrendo na minha frente, já vi os “cracudos” e suas realidades, já vi um homem ser assaltado na frente de sua família e não fiz nada, já dormi na rua, já passei dias sem voltar pra casa e por mais estranho que pareça é assim que me sinto bem, não me imagino vivendo de outro jeito, eu gosto do caos.
- Que merda.
- Vai se foder Billie, e também tem a garota do parque, ela parece aventureira, tem uma puta liberdade e independência não precisa de ninguém para ficar de boa.
- Aquela que não existe? A bruxa?
- Claro que existe, vai a merda Billie.
- Então por que não a vemos?
- Cara, ela é de outro nível social, bem abaixo do nosso, e sei lá não parece que quer namorar ou ao menos admitir que estamos ficando, ela é estranha.
- Bom pra mim isso já é um bom argumento para investir na Susi e sobre seu caos, todo mundo passa por isso, se você acha Curitiba louca deveria vir pra São Paulo comigo algum dia. Eu sempre tive amizades mais fortes com pessoas mais velhas e sei que parece prematuro, mas isso que você disse víamos e fazíamos quase todo final de semana, é normal.
- Normal? Claro que não, até hoje sou o único que conheço da minha idade que já fez isso.
- Todos temos nossas fases na vida Manson, pra nós começou cedo, mas por exemplo Kurt, tenho certeza que chegará mais tarde, dá pra ver que seus pais o seguram bastante. Somos prematuros meu amigo.
- Você passou por isso cara?
- Já, e também tive esse seu dilema quando conheci a Tati.
- Sua namorada?
- Sim, ela era bem na dela, cheia das nove horas e também achei que não daria certo, mas eu tentei e fui um pouco para seu mundo e ela veio para o meu, ela descobriu que também curtia viver esse seu “caos”.
- Mas a Susi, sei lá. Não gosto dela de outro jeito, ela parece legal de mais para alguém assim como eu, não quero magoa-la.
- Assim como velho? – Diz Billie, parece um pouco estressado agora.
- Ué, assim, não liga pra nada, pouco se importa, bravo ignorante, sei lá. – Robert fecha o rosto e Billie ri.
- Cara, só de você admitir tudo isso que diz ser, já é um indicio de que provavelmente você não é. Um desajustado nunca admite seu erro, ele se faz de vítima. – Retorna o longo silêncio.
- Cara sua mãe é psicóloga não é? – Pergunta Robert.
- Sim, por que? – Pergunta Billie.
- Acho que já sei qual vai ser a sua profissão. – Os meninos riem. – Mas falando sério, acho a Susi muito legal pra tentar algo, gosto dela só como amiga mesmo.
- Você que sabe... E aquela Alice?
- Alice? O que tem ela? – Pergunta Robert.
- Você já ficaram certo?
- Sim Billie, mas o que isso importa?
- Ela não era “muito legal pra tentar algo”? – Pergunta Billie.
O silêncio volta.
- Alice é diferente, ela vale a pena.
- Vale a pena?
- Sim, se ela quisesse eu ficaria com ela, sabe namorava, eu a pegaria pra mim.
- Namorar? Você? Caramba é sério mesmo.
- Cara, Alice é diferente, é gata, sabe bem o que quer... Não é por acaso que...
- O que cara? – Pergunta Billie.
- Nada, ia falar uma besteira.
- Não por acaso que o Kurt gosta dela né? Não era isso que ia dizer? – Depois de mais silêncio.
- É, isso mesmo.
- Mas se você sabia que ele gostava dela, por que ficaram?
- Eu também gostava dela. No começo eu apenas dava umas investidas para ver se ele falava alguma coisa e já tinha perguntado se ele gostava dela, mas ele sempre negou. Quando finalmente fiquei com ela senti algo, sei lá ela é diferente, o melhor beijo que já provei.
- O melhor dos dois? – Ironiza Billie.
- Qual é Billie, nada ver. Não é amor, acho talvez algo mais físico. Mas eu namoraria fácil com ela. Alice vale a pena, temos um tipo de amizade estranha...
Na casa de Billie...
O telefone da casa toca novamente como tem feito muito nos últimos dias já fazendo algo raro que é tirando Wanda do sério. Toda vez que alguém atende o telefone ele parece até estar mudo, Tiago até fez alguns testes mas só apontaram a condição perfeita do aparelho, a empregada até jura que uma vez escutou uma respiração do outro lado da linha.
Wanda pega o telefone mas novamente está mudo, ela espera na linha até a ligação cair, então a Dra. coloca o aparelho no suporte e quando toma o rumo da cozinha ele toca novamente.
Wanda em passos pesados se vira para o telefone o pega no suporte com uma raiva que não sei como não o quebrou...
- ALÔ... – Diz Dra. brava em um tom mais ríspido.
- Alô, com quem eu falo? – Responde uma voz fraca do outro lado linha.
- COM QUEM VOCÊ QUER FALAR??? – Diz Wanda.
- Com a Dra. Wanda Albuquerque, por favor, ela se encontra? – Diz a voz que faz Wanda reconhece lá mas não conseguir identificar.
- É a própria, quem gostaria? – Wanda suaviza sua voz.
- Oi Wanda aqui é Ana Rodrigues, liguei em má hora? – Diz a mãe de Bernardo.
- Aninha? Não, claro que não, ótima hora, no que posso ajudar? – Diz Wanda com peso na consciência.
- Não é uma hora ruim mesmo? Posso ligar outra hora.
- Que isso querida, nunca é má hora quando se trata das minhas amigas, pode falar querida. – Diz Wanda se sentando no sofá.
- Sei que quer dar um tempo no trabalho, mas gostaria de marcar uma consulta. – Diz Ana envergonhada.
- Consulta? Pra que querida? Para você? – Diz Wanda perplexa.
- É, quero dizer, não, sim. Para o Bernardo, não pra mim, para nós. Desculpa querida, nem eu sei direito. – Ana se envergonha.
- Não entendo, mas podemos conversar sobre isso pessoalmente. – Diz Wanda.
- Então, para quando tem um espaço em sua agenda? Para semana que vem talvez? – Pergunta Ana.
- Olha, como lhe disse, não penso em abrir um consultório por aqui, não por enquanto e estou sem grandes compromissos.
- Wanda, me desculpe, sei o que falou, e sei que não devia estar insistindo tanto, olha me desculpe...
- Querida, somos amigas, não se preocupe e nem se desculpe, olha, o que fará hoje a tarde?
- A tarde? – Pergunta Ana.
- Sim ou por agora, se não for fazer algo mais importante é claro.
- Não tenho nada em mente.
- Então, por que não vem conhecer minha casa? Ou se quiser posso ir até aí, o que for melhor pra você.
- Wanda, sei que parece desaforo, mas pode vir aqui, estou me sentindo meio indisposta.
- Sim querida, claro, John ligou avisando que não almoçará em casa e meu marido foi para uma reunião chata de negócios, então só vou tomar um banho e daqui a pouco chego aí.
- Wanda, pode deixar que será bem remunerada pelo incomodo. – Diz Ana em uma voz fraca.
- Não se preocupe com isso querida, até já.
- Até. – Diz Ana antes de desligar o telefone.
Wanda vai em direção a seu quarto mas o telefone toca novamente. A doutora volta correndo para atender.
- Alô...? - É o silêncio novamente, a ligação cai e Wanda desliga o telefone com raiva e vai se arrumar.
Um pouco mais tarde na casa de Bernardo...
Toca a campainha e Bernardo corre para atender.
- Deixa comigo!!! Eu atendo. – Diz Bernardo abrindo a porta com presa. – Boa tarde meninas. Diz Bernardo para seus dois melhores amigos.
- Dae, cadê o rango, to morrendo de fome velho. – Diz Robert.
- Verdade Kurt, estamos com a barriga nas costas, já são quase 15:30h e só estamos com o café e merenda no bucho.
- Vão para sala de jantar que vou avisar a Clarice para servir o “pão velho”.
- Ok. – Respondem Billie e Robert.
Depois de almoçarem...
- Cara, vocês realmente estavam com fome, só faltou lamber o prato, não comeram nada no centro mesmo?
- Cara, pra falar a verdade tinha um pacote de biscoito, mas Manson fez o favor de sentar em cima e tivemos que comer farelo a cego. – Diz Billie.
- Estavam não, estou, o que tem mais para o rango? – Diz Robert.
- Orra, você comeu uma montanha de comida e ainda está com fome? Deve ter uma puta de uma lombriga dentro de ti mano. – Se espanta Billie, Robert apenas faz um sinal com os ombros.
- Mas e aí, compraram tudo?
- Sim e ainda fizemos melhor, pó de... Aiii. – Robert é interrompido por um soco que Billie da por debaixo da mesa.
- Papel almaço, canetas marca texto, uma agenda. – Diz Billie.
- O que? - Bernardo não entende nada.
- Para o trabalho que viemos estudar esta tarde, valeu pela força Kurt. – Diz Billie, Robert finalmente entende ao ver quem está vindo em direção a sala de jantar em passos apressados.
- Não to entendendo bosta nenhuma. – Diz Bernardo.
- Boa tarde meninos, que ótima surpresa - Diz Ana Rodrigues entrando na sala de jantar, Bernardo se arrepia todo.
- Boa tarde. – Diz Billie.
- E ai tia, na boa? – Diz Robert, Ana faz cara de descontentamento ao ouvir o “tia” de Robert.
- E sua mãe Billie? – Diz Ana.
- Está ótima. – Diz Billie.
- Não, onde ela está? – Diz Ana sorrindo.
- Acho que em casa por que?
- Acho que ela não te avisou, mas daqui a pouco ela está chegando aqui me fazer uma visita, até sai do banho correndo achando que era ela que tinha tocado a campainha. – Diz Ana.
- Realmente não sabia dona Ana.
- Que isso, pode me chamar apenas de Ana. Mas viu, ouvi direito, vocês vieram estudar?
- Sim, o Kurt como está adiantado vai nos dar uma força, né Manson? – Diz Billie analisando aquela mulher, tem algo errado com ela, mas ele não sabe exatamente o que é.
- É, isso mesmo. – Diz Robert meio pego de surpresa.
- Então tá, vou para o meu quarto, quando sua mãe chegar eu desço, e também não quero atrapalhar o estudo de vocês, bom estudo. – Ana passa a mão no ombro de Bernardo e beija sua cabeça.
Bernardo aparenta não gostar, mas não fala nada, apenas esboça um espasmo.
- Rapaziada, melhor irmos para o quarto, lá podemos conversar melhor, essa foi por pouco. – Diz Bernardo.
- Vamos nessa. – Diz Billie.
- E a sobremesa? – Diz Robert.
- Come depois, vamos nessa. - Diz Bernardo, os dois o puxam Robert.
- Saco mesmo. – Resmunga Robert.
Na casa de Alice...
A garota acaba de desligar o telefone, como todos os dias depois da escola, o tempo com Kevim não é suficiente, pelo menos não em sua cabeça.
Tem sido assim desde aquele dia da “surpresa”, ela não está bem, sabe que está assim, mas não sabe o que anda errado com ela.
Ela se deita na cama mas não olha para nenhum lugar especifico, as paredes de seu quarto parecem se mexer quanto mais distraída ela fica, os sons de carros cantando pneu que vem de longe, ninguém sabe da onde não a deixam dormir.
Seu jardim parece muito frio mesmo com o sol forte, a sensação de vulnerabilidade lá fora a faz suar frio, da sala parece que pode ser surpreendida a qualquer instante, seu quarto a proporciona a melhor sensação da casa.
Alice já tentou fazer de quase tudo mas nada distrai sua cabeça, Kevim não sabe e nunca saberá o tamanho do mal que a causou.
Outro robe de Alice é encarar o cartão dado por Wanda, pega o telefone e nem se dá conta do que faz com ele, ela não sabe, mas algo na doutora a deixa confortável, parece alguém que realmente sabe das coisas talvez seja alguém que ela aprenda a confiar.
No deck na casa de Bernardo...
- Acho suas ideias bem inovadoras, e sinceramente no fundo duvido que elas deem certo com Bernardo, ele é muito impulsivo, tenho medo que quando Matheo for fazer essa viagem eu não consiga segurar as rédeas. – Diz Ana despois de uma longa tarde de aconselhamento com Wanda.
- Sabe, gosto da sua sinceridade Ana, a maior parte das pessoas não teriam coragem de falar isso na minha cara, mas devo falar que não é a primeira pessoa a duvidar dos meus métodos, por que vão muito na contra mão do tradicional. – Diz Wanda levando a xicara de chá na boca.
- Wanda, pelo amor de Deus, não quero questiona-la, longe de mim, sei do seu currículo, mas Bernardo é diferente.
- Muito pelo contrário, posso dizer que na minha profissão já ouvi muito desse “o casso do meu familiar é diferente”, é sempre assim e na maioria das vezes é igual, em bora a grama do vizinho pareça mais verde, ela sempre tem falhas e buracos escondidos assim como a nossa.
- Jura?
- Claro querida, e vamos por em pratica agora, onde estão os meninos?
No quarto de Bernardo...
- Raio laser, maneiro ei. – Diz Bernardo aficionado pelo pequeno aparelhinho de luz vermelha. – Achei que tinham pouco dinheiro.
- E tínhamos, mas a amiguinha do Manson deu uns trocados e conseguimos comprar um inteiro e dois sem as tampinhas, com defeito, mas dá pro gasto.
- Cara, você tinha que ver o Billie negociando. – Diz Robert.
- Legal rapaziada, mas vamos repassar o plano, eu fico de cuido em quanto Manson entra na sala do Caique na segunda aula em quanto ele estiver na aula de computação, mas vocês tem que ter certeza de que os uniformes realmente ficam com ele.
- No primeiro jogo ele os trouxe de casa, acho que dessa vez não será diferente. – Diz Bernardo.
- Continuando, no vestiário Manson descarrega pó de mico no uniforme do Caique e do Kiko e um pouco no goleiro e bastante em sua luva. Já você Kurt, uma vez um amigo meu quebrou o braço e teve que passar um talco para não coçar muito e nem feder o gesso, Kevim deve ter um desses, sua missão é misturar pó de mico nele.
- Não deve ser difícil, pois ele tem o costume de deixar a mochila na sala de aula e sair encontrar a Alice, mas preciso de alguém pra ficar de olho. – Diz Bernardo, ambos os amigos olham para Robert.
- Não, negativo, eu não vou chegar cedo, isso é com vocês. – Resmunga Robert.
- Tá, eu fico de olho pra você, e depois ficamos um em cada canto da quadra apontamos os laser no olho do goleiro e voilà, o crime perfeito.
- Fecho, é nóis rapaziada. – Diz Robert.
Os meninos se cumprimentam quando as mães de Bernardo e Billie batem na porta, os meninos jogam o pó de mico e o laser para de baixo da cama e abrem os cadernos e livros.
- Pode entrar. - Diz Bernardo.
Ana é a primeira seguida Wanda.
- Não tem mais casa não cara? – Diz Wanda encarando Billie.
- Olha que se ficar me enchendo o saco eu fico morando aqui ein. – Diz Billie, Wanda vai até ele beija sua cabeça.
- Gostou da comida Billie? – Pergunta Ana em uma voz fraca.
- Almoçou também? Não tem comida em casa? – Diz Wanda em um tom de brincadeira.
- Sabe mãe, é bom variar de vez em quando, e sim, estava uma delícia senhora Rodrigues. – Diz Billie.
- Tava boa mesmo, mas faltou a sobremesa tia. – Diz Robert, Ana o encara com desprezo.
- Você então é o garoto com um péssimo senso de direção? – Diz Wanda estendendo a mão para Robert.
- O Billie tem contou? Arg, hung, mas... Na verdade eu confundi o parque, foi isso tia. Diz Robert respondendo o cumprimento de Wanda.
- O rapaz, não tenho sobrinhos desse tamanho, e acho que Aninha também não então corta essa de “tia”. Como se chama? – Pergunta Wanda.
- Arthur, Arthur Mauta, prazer. – Diz Robert sorrindo.
- Prazer Arthur Mauta. – Diz Wanda.
- Ele está mentindo, ele mente, se chama Robert, está de brincadeira. – Diz Ana meio séria.
- Um engraçadinho? Adoro engraçadinhos, geralmente são os que começam a chorar primeiro.
- O QUE??? – Se assusta Robert.
- Nada, mas e aí rapazes, já terminaram de estudar? – Wanda foca seu olhos de águia nos cadernos e livros que estão no quarto e nas mãos dos meninos.
Os garotos se encaram.
- E aí galera, tá bom pra vocês? – Pergunta Bernardo.
- Eu acho que sim. – Diz Billie.
- De boa. – Diz Robert.
- Já vamos para casa mãe? – Pergunta Billie.
- Ainda não, esses dias Billie me disse em casa que estavam querendo montar uma banda, toca algum instrumento Bernardo? – Pergunta Wanda.
- Não, ganhei uma guitarra mas nem tive tempo de começar a tocar. – Diz Bernardo sem graça.
- Por que não começa agora, Billie pode ensinar algo, ele toca violão e guitarra.
- Olha, na verdade eu... – Bernardo tem vergonha de dizer na frente dos seus amigos que sua mãe lhe tirou a guitarra como forma de castigo.
- Ele está de castigo, não pode tocar e nem ver a cor da guitarra até aprender a lição. – Diz Ana avermelhando seu filho de vergonha.
- Aaa, vamos abrir uma exceção, só para ver como Billie toca bem. – Diz Wanda.
- Eu aposto que toco melhor que ele tia, quer dizer Dra. Wanda. – Robert.
- Apenas Wanda seu Arthur, mas quer apostar? Duvido que vença Billie.
- Wanda, pode vi aqui um minuto? – Cochicha Ana. – A melhor não, Bernardo está de castigo.
- Querida, confia em mim e ainda mais quero ver a cara desse moleque quando John dar um coro nele. – Ana parece receosa. – Vai por mim, confie. – Wanda Sorri.
- Tá, ok mas só um pouco. – Diz Ana indo para seu quarto pegar a guitarra.
- Perfeito. – Diz Wanda.
Quando traz a guitarra imediatamente Robert se apossa do instrumento e contrariando as expectativas de Wanda e surpreendendo Ana, o esbugalhado toca muito bem, começa com Pet Sematary do Ramones mas não revela a música nem a banda, deixa que seu “público” adivinhe, Billie é o primeiro a se tocar e Wanda é a primeira a falar e fica surpresa com a perícia do garoto.
Logo Billie pega a guitarra e tira Sweet Child O´ Mine do Guns N´ Roses mas só o começo da música, Robert em seguida pega novamente e consegue tocar quase inteira e reproduz quase perfeitamente o solo do Slash. Conforme a tarde vai passando várias músicas de bandas como Kiss, Metallica e Red Hot Chili Peppers são tocadas pelos garotos.
Ana pede para empregada fazer um lanche e antes de voltar para o quarto tromba com Bernardo no corredor.
- Mãe, obrigado. – Diz Bernardo a abraçando, Ana fica sem reação e depois de alguns instantes responde o gesto de carinho do filho.
No quarto Wanda quer saber mais sobre o talentoso e mentiroso músico.
- Me diga garoto, você faz aulas?
- Faço, matemática, inglês, boxe tailandês. – Responde bem humorado como sempre Robert.
- HÁ há que engraçado. – Diz Wanda com sarcasmo.
- Não, aprendi tudo em revistas e tem alguma coisa na internet também, toco desde cedo.
- Nossa, achei que Billie lhe daria uma surra, mas vejo que você é bom mesmo.
- Obrigado, depois lhe dou um autografo. – Diz Robert sorrindo.
- Metido.
- A senhora, você curte rock?
- Ouço algumas coisas, mas prefiro anos setenta para frente sabe coisas assim mais antigas acho que você não conhece.
- Te desafio, pode falar a Banda e a música que tento tocar.
- Duvido.
- Quer apostar? Vai perder, deixa eu pegar a guitarra. – Diz Robert esticando o braço para a direção do instrumento que está com Billie e Bernardo.
- Não, depois do lanche.
- Ok. – Responde Robert, Ana dá sinal para Wanda sair do quarto.
Wanda se levanta e vai para o corredor.
- Oi querida, aconteceu algo?
- Sim Wanda, ele me abraçou, como a muito tempo não fazia. – Ana está com sua expressão melhor.
- Sério? Que ótimo. – Wanda abraça a amiga.
- Nossa, ele me surpreendeu ele é bem chato e não gosta nem que eu chegue perto quando os amigos dele estão perto.
- Viu que maravilha.
- AÍ DOUTORA, VAI PERDER A APOSTA, JÁ TERMINEI O LANCHE! – Grita Robert do quarto.
- É, agora que esse moleque perde, vamos lá? Ele vai tentar tocar qualquer música que pedir, você sabia que ele tocava tão bem?
- Olha Wanda até sabia que ele tocava mas não sabia que era “tudo isso”.
- Vamos então Ana? Vai ser divertido.
- Vamos então. – As duas mães entram no quarto e são surpreendidas, os garotos estão sem as camisetas do uniforme e vestiram camisetas pretas de rock do Bernardo.
Billie e Robert estão com camisetas do Kiss e Bernardo com uma do Nirvana que nas costas tem Kurt Cobain acenando.
- Vejo que se vestiram a caráter meninos, mas sem delongas, The Police – Every Breath You Take.
- The Police? Hummm, não sei direito pelo nome mas acho que é essa aqui... – Robert começa a tocar quase perfeitamente Every Breath You Take. – Tocar eu toco, mas cantar é com vocês. – Diz o esbugalhado.
Wanda começa cantar perfeitamente a música dando sinais para Ana acompanha lá mas ela está com vergonha e só começa a cantar no final quando se sente a vontade para tentar.
- Caramba Doutora como você canta bem. – Diz Robert.
- Essa música especificamente usei muito quando dava aulas.
- Você é professora?
- A minha mãe dava aulas de inglês antigamente Manson. – Diz Billie.
- Massa. – Diz Robert.
- Então, um a zero pra você garoto, Ana, sua vez desafie o garoto. – Diz Wanda.
- Ai, eu não sei, melhor não.
- Isso mãe, sua vez. – Diz Bernardo.
- Vai Ana. – Diz Wanda.
- Fala uma música senhora Rodrigues. – Diz Billie.
- Tá com medo de perder tia? – Diz Robert.
- Mãe, vai. – Diz Bernardo com seus olhos brilhando.
- Nazareth – Holy Roller. – Ana ri com silêncio que vem até Robert assimilar a música em sua cabeça, ela se sente feliz e impulsionada pelo pedido de Bernardo.
- Vamos lá, vai, cantar é com vocês. – Diz Robert executando bem a música.
Wanda começa a perder a paciência com as habilidades de Robert, mas tudo na esportiva é claro.
- Garoto sem vergonha não erra uma, rápido Dio – Rainbow In The Dark. – Diz Wanda.
- Sério? Achou que não conhecia Dio? – Ironiza Robert.
- Menos papo e mais música. – Diz Wanda, mas Robert novamente se sai bem.
- Agora um bônus pra você tia já que parece que curte Nazareth, Dream On... – Robert começa cantando a música o garoto esbugalhado mas seu negócio é tocar mesmo pois sua voz deve muito, Billie conhece a música e o acompanha, ele sim canta bem.
- Como eles casam bem juntos não é?
- Verdade Ana, Billie mencionou algo sobre montar uma banda com os meninos.
- O Bernardo não me disse nada. – Nesse momento a música acaba.- Bernardo a Wanda me disse algo sobre vocês montarem uma banda?
- Sim, só preciso aprender a tocar direito mãe. – Diz Bernardo sorrindo.
- E qual o nome? – Pergunta Wanda.
- Merilyn e os Mansons. – Diz Robert. – Não, não, “Robert O Manson e a Piazada”.
- Nossa que bosta. – Diz Bernardo.
- Olha boca Bernardo. – Repreende Ana.
- É banda rock ou grupo de pagode? – Diz Billie. – Na verdade não temos um nome ainda mãe. - Diz Billie.
- Entendi, mas para fechar, rápido Whisky David – Charley. – Diz Wanda.
- Com ou sem introdução?
- Com.
- Ok, onde estará meu amigo Charley... – Robert toca bem novamente.
- Meninos, vou conversar um pouquinho com a Ana e em quinze minutos estamos indo, se quiser uma carona te levamos Robert.
- Obrigado Doutora quero sim. – Diz Robert.
- Sim mamãe. - Diz Billie.
As mães vão para sala.
- Ai Kurt sabe tirar alguma coisa do Nirvana? – Pergunta Robert.
- Ainda não.
- Que vergonha, não sabe tirar uma música do teu apelido, eu te ensino. – Diz Robert.
- Sei Smells Like Teen Spirit. – Diz Billie.
- Beleza, vai essa, mas antes deixa eu mostrar por que me chamam de Manson. – Robert começa a tocar Sweet Dreams.
Na sala...
- Não sei se é precoce mas aquele abraço representou muito para mim e conhecendo meu filho como conheço já é um avanço. – Diz Ana empolgada.
- Realmente é cedo mas a mudança nas atitudes tem de vir alguma hora. Mas não é apenas Bernardo que deve corrigir algumas atitudes, você também tem trabalho dona Ana. – Diz Wanda.
- EU???? Não entendi Wanda.
- Sim a senhora, notei o jeito hostil que tratou Robert.
- Bom, não gosto muito daquele garoto ele é má companhia pro Bernardo. – Diz Ana depois de uma longa pausa.
- Acho que você está enganada, meninos erram querida e se você colocar todos os pontos nos I`s não tem com que se preocupar.
- Ai Wanda mas ele é, é, é folgado e preguiçoso, já é repetente, não parece interessado.
- Olha querida, este é seu maior erro, você olha apenas para um lado, ele pode ser muita coisa mas não preguiçoso e na escola realmente desinteressado, mas você reparou na habilidade e a perícia que demonstrou com aquela guitarra? Ele dedicou várias horas aquilo.
- Você realmente acha isso Wanda?
- Claro, sei um pouco sobre música e aquele garoto dedicou muito e também acho que nosso sistema de ensino anda saturado, garanto que os professores mal repararam no garoto por trás das notas vermelhas e das repetências, talvez nem seus próprios pais tenham reparado.
- Vendo por esse lado você parece ter razão.
- Conhece os pais dele Ana?
- Tive pouco contato com eles, mas não estão exatamente no nosso nível social, seu pai é dono de uma empresa de sacos de lixo e não sei muito a respeito de sua mãe.
- Interessante, não lembro de te ló visto na festa dos Souza Costa.
- Não foram convidados.
- Entendi, para sua lição de casa Ana quero que converse com seu marido sobre Bernardo e tentem dedicar pelo menos uma hora para tentar faze ló tocar guitarra ou fazerem brincadeiras sobre, o incentivem. Quero também que você comece a tratar Robert como gostaria que tratassem seu filho e tente devagar conhecer seus pais.
- Nossa Wanda, tudo isso?
- Sim querida, você pode usar a habilidade do garoto para que ele ensine Bernardo farei algo semelhante com John, essa é sua oportunidade de se aproximar dele. Bom mas agora está na minha hora, vou chamar os meninos.
- Espere querida, tenho um cheque pra você, não sei se cobre seus honorários mas espero ser o suficiente.
- Ana, não precisa. – Diz Wanda mas Ana se levanta abre sua bolsa e puxa o gordo cheque.
- Claro que precisa, nem o relógio trabalha de graça.
- Querida nossos filhos são amigos, não precisamos disso, me pague com seu abraço e sua amizade que já estão de bom tamanho. – Diz Wanda abrindo os braços.
- Então tá querida mas você não querer aceitar o cheque... Obrigado. – Diz Ana respondendo o Abraço.
- Vamos chamar os meninos, devagar para ver o que estão aprontando. – Diz Wanda.
As mães se esgueiram e pegam Robert e Billie ensinado Bernardo que está quase acertando o começo de Smells Like Teen Spirit.
- Parecem três corvinhos tocando com essas camisetas pretas. – Diz Ana sorrindo.
Bernardo dá um pulo da cama que quase faz a guitarra se desplugar.
- O que você disse mãe???
- Ai, desculpa não devia ter falado isso.
- Repete!!! – Insiste Bernardo.
- Chamei vocês de corvinhos, desculpe...
- Ouviu isso Billie??? – Diz Bernardo.
- Ouvi, espera... – Os dois amigos gritam juntos.
- OS CORVOS!!!
- Que nome mais animal para uma banda diz Robert até em inglês fica massa.
- Parece que acharam um nome meninos, graça a Ana. – Diz Wanda.
- Muito obrigado mãe, que grande nome. – Diz Bernardo abraçando as mãe.
Ana solta tímidas lágrimas dos olhos, Wanda percebe e dá um jeito de saírem logo dali, isso não passou despercebido pelos atentos olhos de Billie que permanece em silêncio.
- Vamos meninos, já ficamos tempo de mais. – Diz Wanda se direcionando para saída.
- Sim mãe, quero logo chegar em casa e tomar banho antes que esfrie mais. – Diz Billie.
- Cedo, fiquem para o jantar. – Ana faz o convite.
- Fica para a próxima, mas muito obrigado pelo convite. – Agradece Wanda.
Wanda vai até seu carro e antes que os meninos entrem no carro Ana Diz:
- Venha mais vezes aqui tocar com Bernardo Billie e você também Robert, sempre são bem vindos.
- Obrigado senhora Rodrigues. – Agradece Billie em quanto Robert nem consegue disser nada de tão surpreso que ficou.
O carro toma seu rumo, mãe e filho ficam na porta abraçados, Bernardo nem imagina, mas aquele é um dos maiores momentos de alegria que sua mãe passa nos últimos tempos.
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