Talvez Seja Você.
- Willian Jorge Chiaq.
- 31 de mar. de 2017
- 2 min de leitura
Hoje acordei com seu cheiro no edredom, saudade com uma dose generosa de arrependimento.
Hoje a noite cai e a chuva desce lavando mais que as telhas e seu sangue que ficou na calçada.
Você se foi e a sua vida se esvaeceu como um sopro.
Vivemos um paralelo tão pequeno com a morte que só a percebemos quando ela tropeça em alguém que amamos.
O que foi só mais um escorregão entre muitos que você deu na vida se tornou uma forma repentina e fatal.
Foi um deslise em quanto lavávamos a calçada, uma batida única e certeira na sua nuca.
Eu dei risada pois achei que tivesse sido mais um escorregão entre muitos que você deu na vida.
Só me dei conta do estrago quando vi seu sangue descendo o ralo em quanto te chacoalhava tentando devolver sua consciência.
Era um dia normal, nada de especial, um dia de rotina comum que terminou em tragédia, drama e desespero.
Não lembro quem, mas alguém chamou a ambulância que cortou caminho entre os vizinhos e curiosos que presenciaram aquela tarde sem nada de mais de quinta feira.
Implorei para o médico socorrista a reviver mas depois de cinco minutos de exames lá na garagem de nossa casa, na nossa garagem sem carro ele disse que lamentava, não senti lamento em sua voz.
Eles a cobriram e nossos parentes e amigos me socorreram em quanto esperávamos o carro do IML chegar.
A polícia já estava no local, quiseram me interrogar, nem sei o que disse, como eles puderam achar que eu podia ter tirado a vida da unica pessoa que me fez amar?
A mangueira continuava ligada, fui obrigado a ir para delegacia e fazer os preparativos para o dia seguinte, seu velório e seu enterro e pela manhã quando cheguei em casa a torneira continuava ligada mas não importava.
A vizinha veio me perguntar sobre o local da cerimônia fúnebre respondi pisando sobre ovos, tudo parecia sonho e foi quando acabei cochilando.
Primeiro sonhei que aqueles acontecimentos tinham sido um pesadelo e que o sonho era a realidade, o segundo foi você se despedindo.
Acordei com sua irmã batendo na porta, ela avia desligado a torneira e estava atrás de uma boa roupa para você vestir dentro do caixão, ela escolheu, eu estava do lado dela mas estava bem longe.
Ela escolheu seu vestido favorito turquesa e sua sandália marrom que passei vários dias comendo macarrão instantâneo para poder te dar de presente e que você dizia estar guardando para uma ocasião especial que nunca chegou, as flores sobre você mal mostrava sua roupa.
Eu nunca vu me perdoar...
Eu nunca vou me perdoar por ter te chamado para lavar a calçada, ter espalhado o sabão em pó e ter ligado a mangueira.
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