21. A Alegria Do Não Saber.
- Willian Jorge Chiaq.
- 28 de abr. de 2017
- 22 min de leitura
- Falou Billie até amanhã irmão.
- Até Manson, vê se não atrasa vacilão.
- Não prometo nada, você me conhece, tchau Doutora, nos vemos por aí. – Diz Robert seguindo rumo a entrada da sua casa, Wanda responde apenas acenando a cabeça.
- Isso aí, próxima parada nossa casa, to exausta John. – Diz Wanda arrancando o carro, as ruas já estão com os postes acendidos e conforme vão se aproximando de sua casa mais chega a noite.
Depois de minutos de transito ruim, congestionamento conversas jogadas fora um acidente envolvendo um motoqueiro, garoa fina e boas músicas dos Cds que ficam no carro mãe e filho finalmente chegam em casa as 19:47h.
Wanda encosta o carro na garagem.
- Graças a Deus finalmente chegamos, não aguentava mais, ainda bem que seu amigo não conhecia nenhum atalho, se não duvido que tivéssemos conseguido chegar hoje em casa.
- Verdade mãe, ele é bem mentiroso fica inventando um monte abobrinha, hoje mesmo tava falando um monte de mentira nada ver, mas no fundo é boa gente.
- Sério, é desses então? E você? O que falou?
- A mãe, sabe como é não pode contrariar se não é pior daí inventei umas coisas também, só pra ele ficar mais a vontade, sabe como é, fortificar laços.
- E o que diz do Bernardo?
- O Kurt é de boa, mas é muito bebezão, gosto dele, na verdade dos dois.
- Fico feliz de ouvir isso querido, já esqueceu o Pedro e o Samuca?
- Não tem com né mãe, eles são meus melhores amigos, e me lembram de São Paulo, tivemos uma vida muito boa, trocaria Kurt e Manson sem pensar duas vezes pelo Pedro e Samuel, e trocaria todo mundo pela Tati.
- Conversam com frequência?
- Sabe mãe eu acho que está amornando, antes era todo dia por msn e agora parece que ela nunca quer falar comigo, nunca entra.
- Você ainda gosta dela?
- Eu amo ela mãe, sei que sou jovem mas se pudesse me casaria com ela hoje mesmo, tá doendo muito essa distância aqui dentro. – Billie coloca a mão no peito.
- Sinto muito por isso querido, prometo que te levo ver ela, só não sei quando, talvez nas suas férias. – Diz Wanda encarando seu filho pondo a mão em seu ombro.
- Ok mãe, vamos entrar de uma vez, já ficamos tempo de mais dentro desse carro. – Diz Billie abrindo a porta com os olhos cheios de lágrimas.
- John, espere um pouco, tenho que lhe fazer uma pergunta.
- O que mãe?
- Você e os meninos estão aprontando algo?
- O QUE??? Não, por que? Que ideia é essa? – Diz Billie meio cabreiro.
- Tem certeza?
- Claro, ora, não estamos aprontando nada, mas por que?
- Filho o que é filho de peixe?
- Que???
- O que é filho de peixe filho? – Diz Wanda, Billie quebra a cabeça para achar uma resposta.
- Peixinho é? – Diz Billie cheio de dúvidas.
- Sim filho, “filho de peixe peixinho é”, concorda?
- Sim, parece obvio.
- Então por que na casa da Ana você estava estudando um livro de inglês?
- Livro de inglês?
- Sim, quando entramos no quarto você estava com um livro de inglês, Bernardo com um de história e Robert de língua portuguesa.
- Bom, obviamente não temos as dificuldades nas mesmas matérias. – Diz Billie fazendo de tudo para disfarçar.
- Sim, mas inglês? Você? Querido você é filho de uma antiga professora de inglês, eu sei que você é fluente e sei que você também sabe disso, só não sei por que você estava estudando inglês sendo que sua maior dificuldade sempre foi em ciências?
- Caramba mãe, que implicância, você deveria estar feliz de me ver estudando inglês, quer dizer eu estou interessado e você fica aí me acusando, eu vou tomar um banho, boa noite, esperava que você confiasse mais em mim. – Diz Billie saindo do carro e andando rápido achando que se saiu bem e que se safou dessa.
- JOHN, se descobrir que você andou aprontando, juro que terá uma surpresa não muito boa. – Diz Wanda também saindo do carro, Billie para na hora.
- Não se preocupe, você não vai descobrir e também nem sabe o que vai fazer se eu aprontar, caso contrário já teria falado e não seria uma surpresa. – Diz Billie virando sua cabeça de lado e continua andando.
- Garoto esperto. – Diz Wanda sorrindo de leve.
- Mãe, você notou? – Billie para novamente e se vira para trás. – Sabe na mãe do Kurt?
- Notou o que?
- Não sei, algo estranho, o cabelo?
- Não querido, deve ser impressão sua amor, agora vai tomar banho que logo vou eu.
- Tá. – Billie vai rumo a entrada da garagem.
- Garoto esperto. – Diz Wanda baixinho.
Na casa de Bernardo...
- Pai, você tinha que ver, foi maneiro pra caramba a gente tocando, o Billie toca bem mas o Manson arrasou.
- Sério? Achei que ainda estava de castigo. - Diz Matheo levando o garfo com ervilhas a boca e encarando Ana.
- A mamãe deixou.
- Aí amor, você tinha ver ele tocando.
- Mãe posso mostrar para o papai depois do jantar o que acha?
- Ótima ideia. – Diz Ana animada, não está se sentindo bem, mas o clima agradável que está na casa a faz fazer um esforço.
- Não, pare, tenho um monte coisa pra fazer depois do jantar, quero tomar um banho e ficar bem sossegado.
- A querido, vamos por favor, vai ser divertido.
- É pai, vou tocar smells like teen spirit.
- Não, sem chance to muito cansado.
- Então tá, se mudar de ideia será bem-vindo pai... – Diz Bernardo cabisbaixo.
De volta na casa de Billie...
- John, corra vem aqui. – Diz Wanda correndo entrando no quarto do filho segurando um telefone sem fio.
- Aconteceu algo mãe??? – Billie dá um pulo estava deitado com seus olhos fechados e com fones do seu cd player no ouvido.
- Sim, Tati tá no telefone.
- O que a Tati??? Ela me ligou???
- Não querido, eu que liguei, mas fala com ela de uma vez. – Diz Wanda sorrindo e dando o telefone nas mãos do filho.
- Gastando um interurbano pra mim, tá com moral.
- Eu sei. - Diz Wanda saindo do quarto.
Billie respira fundo e quase sem ar toma coragem, ele tem tudo para falar, tanto, tantas novidades, mas nada está fixo na sua cabeça.
- Tati...
- Bi... Billie.
- Sim amor, como está? Estou morrendo de saudades.
- E, eu também...
- Como andam as coisas? Alguma novidade amor? E o Samuca e o...
- Eu te amo sabia. – Diz a garota e fica em silêncio parece choro.
- Eu também, só Deus sabe o que tenho passado aqui. O frio é uma merda e tudo é diferente, não consigo realmente me sentir em casa, pelo menos se você estivesse aqui.
- Billie não tá fácil, não dá sem você... – Agora Billie tem certeza que ela está chorando.
- O que está acontecendo meu amor? Me fala.
- Não dá, eu não consigo, eu quero você aqui... Só você aqui vai fazer melhorar.
- Mas me fala o que tá acontecendo, por favor, não me deixa...
- Eu vou desligar...
- Não por favor, não faz isso estou...
- Tchau amor...
- ESPERA, EU VOU DAR UM JEITO, ESTÁ ME ESCUTANDO EU VOU DAR UM JEITO, EU VOU IR PRA AI EU VOU DAR UM JEITO... - O telefone desliga e somente é ouvido os tus.
Billie fica sem saber o que fazer, seus pés não estão no chão. A ligação mexe muito com ele e perde a noção do tempo, apenas fica segurando o telefone até que sai do transe e decide mandar mensagens para seus antigos amigos e conhecidos do antigo colégio.
No outro dia bem cedo no colégio...
Billie não tem cabeça para começar a botar o plano em ação mas não deixa os amigos na mão e chega bem cedo antes até mesmo de Bernardo. Billie vai para de baixo da velha árvore de uvas Japão e nem sabe para onde está olhando, está totalmente distraído.
- Oiii, tudo bem?
- Ahn...? – Billie levanta o rosto e vê as grandes orelhas de Jéssica contrastando com seu lindo sorriso.
- Está passando bem? – Pergunta a bela garota mexendo em seu cabelo
- To, só meio distraído. O Kurt já chegou?
- Não, ainda não, cheguei mais cedo, Tito precisava pegar alguns livros na biblioteca. Mas vem cá, não está com cara de ser somente distração.
- Sabe, coisas da vida, mas e aí, esse Tito, vocês sempre vem juntos?
- Sim, eu sempre dou carona pra ele, sabe é caminho e assim evita que o coitado fique gastando dinheiro com passagem.
- Sei, legal da sua parte.
- Mas e aí me fala, o que está te preocupando, a final você é um dos melhores amigos do meu, do Kurt. – A voz da menina fica baixa pois Billie percebe o goleiro do time de Kevim mexendo nas luvas, ele as traz nas mãos.
O goleiro chegou junto com Caique que está carregando um grande saco, provavelmente os uniformes. Mas o goleiro guarda as luvas na própria mochila e os dois vão para o vestiário.
- Jessica, aquele não é o goleiro o time do Kevim?
- Ah? Onde?
- Lá, olha rápido, indo pro vestiário. Junto com Caique.
- Sim, ele mesmo, eles jogam hoje.
- Sabe se ele guarda as luvas com ele?
- As luvas???
- Sim, aquelas luvas fedorentas são de estimação, ele sempre sai com elas, sabe, estudei com ele na terceira série e ele já tinha elas, só que eram bem maiores, acho que ganhou do avô, ou de outro parente quer já morreu.
- Caramba, ferrou.
- Por que?
- Não nada, e que eu queria ver elas de perto, parecem de boa qualidade e... – Diz Billie tentando disfarçar.
- Você quer vê-las de perto?
- Não, capaz, não precisa...
- Espera aqui, já volto.
- Espera, o que você vai... – Billie nem termina a frase e a garota vai em direção do vestiário e começa a disfarçar. – O que essa garota vai fazer???
- Oi amor. – Diz Bernardo dando um selinho em Jessica ele acabou de chegar.
- Oi, o Billie está de baixo da árvore, vai lá.
- O que???
- Agora, e rápido. – Diz a garota, o goleiro e Caique estão saindo do vestiário.
- Mas o que???
- Vai de uma vez, sai daqui. – Diz a garota empurrando o namorado e indo em direção dos meninos. – Oi time, vamos ganhar hoje?
- E aí Jéssica tudo bem? – Diz o goleiro, o sorriso de Jessica é tão bonito e cativante que os dois meninos se abrem como paraquedas.
- Bom dia gatinha, se tivermos uma torcida cheia de garotas lindas assim como você a gente tá bem. – Diz Caique, ele já está sem o grande saco e passa a mão no cabelo da orelhuda.
Nessa hora Bernardo se vira para olhar para trás e vê a cena.
- Mas que merda é essa??? – Diz Bernardo se virando e voltando para ir tirar satisfação.
- Kurt, Kurt, Kurt, Kurt. – Diz Billie pegando o amigo pelos ombros e lendo bem a situação.
- Billie, mas o que caralho tá rolando aí, me solta que vou...
- Calma, está tudo bem eu te explico. – Billie puxa o amigo para trás da árvore.
Jessica continua dando sorrisos matadores para cima dos dois jogadores e não se opõe quanto Caique passar a mão no seu cabelo.
- Vocês treinam muito? – Pergunta a sorridente garota.
- Sim jogo até com os amigos do meu pai... – Responde o goleiro.
- Sabe linda, com tanta gente interessante não sei como você consegue namorar com aquele moleque. – Diz Caique interrompendo o colega de equipe.
- Nossa, como você é bobo.
- Não, é verdade gatinha. – Diz Caique, ele não viu que Bernardo já chegou. O goleiro fica quieto.
- Minha mochila está pesada, você pode segurar ela pra mim? – Diz Jessica tirando a mochila e dando na mão do goleiro que fica sem reação. – Nossa, está muito pesada, não estava aguentando.
- Que isso, nem está tão pesada assim... – Diz o goleiro.
- E sabe te acho tão legal... – Diz Caique.
- Sério? Acho que você é bem forte, deve ser seu treino.
- Sim, minha mochila está bem mais pesada. – Diz o goleiro, Caique começa a ficar bravo.
- Deixa eu ver?
- O que Jéssica?
- Sua mochila.
- Minha mochila? Por que?
- Me dá aqui. – Diz a garota puxando a mochila das costas do garoto. – Nossa, você é fortão mesmo.
- Nosso goelirão é... – Começa Caique, Jéssica coloca a mochila do goleiro na costas.
- Isso deve dar até problema na coluna, espera aqui, eu vou fazer um teste. – Diz Jéssica saindo de perto dos dois.
- Espera garota, onde você vai...? – Pergunta o goleiro.
- Dar uma volta, ver se pesa mesmo.
- Mas...?
- Calma, pode ficar com a minha mochila, como garantia que vou devolver a sua. – Diz a bela garota virando pescoço e sorrindo de um jeito bem cativante.
- Essa garota deve estar doida. – Diz o goleiro indo atrás dela.
- Não, pode ficar aqui, você viu? A gata veio falar com a gente do nada, me deu maior mole, pense na moral que nós teríamos se conseguíssemos tirar ela do bosta do Bernardo, pense na cara do Kevim. Eu namorando a segunda menina mais bonita do colégio. – Diz Caique segurando o goleiro. – Deixa ela ir que ela volta pra mim. – Eles não veem os sinal que a garota dá para Bernardo e Billie os chamando para ir atrás do colégio.
- O minha gatinha linda, que saudade que eu tava de você, quase quebrei aqueles dois no meio. – Diz Bernardo se curvando fazendo biquinho para beija lá.
- Oi amor. – Diz a garota deixando o corvo no vácuo e abrindo a mochila. – Aqui, façam o que tem que fazer.
- Valeu Jessica, trouxe a parada Kurt? – Pergunta Billie.
Bernardo vira e revira sua mochila.
- Cara, acho que deixei em casa. – Diz Bernardo meio sem graça.
- Caralho Kurt que merda, vamos ter que adiar... – Diz Billie claramente estressado.
- To zuando, tá aqui. – Diz Bernardo sorrindo.
- Cara a gente já tá sem tempo correndo uma porrada de risco e você ainda fica de brincadeira? – Billie fala com Bernardo com uma seriedade que nunca tinha falado antes (foi a primeira vez mas não será a última), a conversa por telefone do dia anterior o afetou.
- Foi mal Billie, tava só brincando cara. – Diz Bernardo chateado.
- Cadê as luvas? – Pergunta Billie com aquele olhar bravo de quem poderia rachar uma montanha no meio.
- Aqui dentro. – Diz Jéssica tirando as luvas fedorentas da mochila.
- Me dá o pó de mico Kurt. – Billie pega o pó de mico da mão de Bernardo e as luvas. – Jéssica sai de perto pra não ir em você, Kurt fica de olho pra ver se não está vindo alguém. – Diz Billie.
- Pó de mico, o que vocês vão fazer? – Pergunta Jéssica.
- Pronto Billie? – Pergunta Bernardo.
- Espera, pronto, deixa que coloco na mochila Jéssica, não encosta. – Billie guarda as luvas e fecha a mochila. – Pronto, pode levar.
- Tá. – Jéssica segue a ordem de Billie.
- Garota, você é firmeza. – Diz Billie guardando o pó de mico em sua mochila.
Jéssica é pega de surpresa, olha para trás acenando positivamente com a cabeça e sai vermelha com um grande sorriso no rosto vai até Caique e o goleiro.
- Minha nossa meninos, é bem pesada mesmo.
- Mas e ae gatinha, vai torcer por mim hoje? – Pergunta Caique em quanto Jessica entrega a mochila para o goleiro.
- Nossa, olha só que horas são, vou atrás do Tito, até depois queridos. – Diz a garota saindo andando rápido.
No outro lado do pátio...
- E agora Billie?
- A gente fica esperto para ver se o Kevim chega de uma vez. – Billie está sério.
- Saquei... – Diz Bernardo, ele está envergonhado e não consegue dizer nada, o silêncio prevalece por mais ou menos sete minutos.
- Que porra, esse merda não chega de uma vez... – Diz Billie, o fato dele falar palavrões já mostra sua raiva, normalmente ele é mais contido.
- Pois é, parece até o Manson que não chega cedo...
- Cara, olha lá, ele tá chegando, vamos buscar uma posição mais estratégica. – Diz Billie vendo Kevim chegando ao longe.
Kevim para, fala com o goleiro e com Caique por pouco tempo e vai até sua sala deixar a mochila na sala como sempre faz e volta para pátio falar com os amigos.
- Kurt agora é hora, eu fico de cuido e você entra, sério sem brincadeira, entra bota essa merda no talco dele e sai vazado.
- Beleza. – Bernardo até pensa em uma piada mas decide ficar quieto.
Bernardo vai até a sala e Billie fica no início do corredor, Bernardo demora muito. A mochila de Kevim tem três compartimentos diferentes e Bernardo procura do maior para o menor mas demora muito até achar. No corredor Billie vê duas garotas indo rumo a sala, não tem certeza se são da sala de Kevim mas tenta distrai-las.
- Oi meninas, tudo bem com vocês? Não sei se me conhecem, mas meu nome é Billie e sou novo aqui.
- Oi.
- Oi, nós te conhecemos, da briga.
- É da briga. – As garotas riem.
- Sério, vocês viram? – As garotas acenam com a cabeça e dão risada. – Acho então que vocês podem ter ficado com uma impressão ruim de mim.
- Não.
- Jamais.
- Sério, que bom, mas e aí, o que fazem para se divertir aqui? – Pergunta Billie com aquele grande sorriso.
- Billie, você está aí cara? Vamos dar uma volta pra lá. – Diz Bernardo que surgi do nada e já vai puxando Billie.
- Pra lá onde Kurt?
- Lá, lá ó. – Diz Bernardo apontando para nenhum lugar específico.
- Calma aí cara, deixa eu apresentar minhas amigas pra você. – Diz Billie sorrindo e se virando para o lado das meninas. – Conhecem o Kurt anjos?
- Sim, Bernardo... Da briga.
- Namorado da Jéssica.
- Esse mesmo, mas já deu nossa hora, vamos nessa, até mais meninas. Como se chamam mesmo?
- Pode me chamar de Helô.
- Me chamo Tatiane. – Diz a garota.
Billie fecha o rosto abaixa a cabeça e sai de perto, parece que tudo que ouviu ou que aconteceu em sua volta depois daquela conversa por telefone tem haver. Pobre Billie até chegou a esquecer por segundos quando estava com Robert e Bernardo da sua antiga vida, mas agora as emoções virarão um turbilhão dentro de si, algo péssimo para alguém que não consegue chorar.
Logo toca o sinal da primeira aula e depois da segunda, Billie e Robert invadem o vestiário e se surpreendem ao descobrir que a camisa de Kevim estava lá junto com as outras, pelo sim e pelo não decidem colar pó de mico nela também, tudo perfeitamente normal, parece que ninguém suspeitou de nada, em outras palavras, mais um crime perfeito para os corvos.
O tempo avança mais um pouco e logo estamos no recreio, a grande massa dos alunos vai para quadra, Bernardo, Jéssica e Tito topam com Robert e Billie no corredor. Bernardo Beija sua namorada e se despede a deixando com Tito, agora os três corvos estão reunidos.
- Galera, dá um tempo que vou no banheiro rapidão. – Diz Billie.
- Limpa bem e vai logo. – Diz Robert sorrindo, Bernardo fica em silêncio. – Mano, nem te conto, você nem sabe quem me deu maior mole ontem.
- Que comece as mentiras. – Diz Bernardo com sarcasmo, ambos estão parados na porta do banheiro.
- Não velho, sério, a mãe do Billie.
- Teu nariz, se tá bem loco?
- Sério Kurt, você viu na sua casa, e quis me dar carona, e fiquei o tempo todo trocando olhares com ela e ela respondeu olhando de volta.
- Cara, nada ver ela só é simpática, é psicóloga ou psiquiatra, deve estar querendo estudar esse seu caso de ser um bosta.
- Não cara, nada ver ela tá afim e eu vou pegar se me der mole.
- Pega bosta nenhuma e acho melhor trocar de assunto, o Billie parece que tá bem puto e não vai gostar de ver a gente falando da mãe dele.
- Achei que era algo comigo, ele realmente está estranho... – Diz Robert, está mais leve agora de descobrir que Billie não está estranho somente com ele.
- Aí Manson. – Diz Bernardo depois de alguns instantes. – Você não fica falando da minha mãe pelas minhas costas né?
- Sua mãe? Não, dela não.
- Hum, bom mesmo o palhaço.
- Sua mãe até que era bem gostosinha, mas agora está muito magra...
- O que você disse filho da puta??? – Bernardo fica muito bravo, mas Billie acabou de sair do banheiro.
- Vamos nessa senhores. - Diz Billie, Robert o segue e Bernardo o fica encarando.
Na quadra a torcida vai a loucura, a grande maioria torcendo para Kevim e seu time, os jogadores já estão com o uniforme, o goleiro está no gol, Caique e Kiko dão alguns chutes para aquecê-lo.
Kevim está segurando sua camiseta do time com a mochila nas costas, ele tira a camisa do uniforme e coloca a dez para apoiar seu time, Alice está do seu lado em pé, Aline e Bel estão perto mas sentadas. Kevim pega seu talco dentro da mochila e joga dentro do gesso.
O goleiro mostra um certo incomodo nas luvas mas não as tira pois acredita que elas lhe trazem sorte, Kiko e Caique se coçam um pouco. O professor de educação física assim como seu auxiliar estagiário chegam ao meio da quadra chamando os atletas de ambos os time para acertarem algumas coisa. Kiko está com a braçadeira de capitão originalmente usada por Kevim, o faxineiro também está observando tudo, bem diferente do último jogo, o diretor quer esquecer isso e não quer nem pensar no que pode acontecer com a reputação do colégio se algo tão violento acontecer novamente.
- Ok, eu vou para trás do gol contrário com o laser, Kurt você fica ali mais perto da lateral e Manson fique o mais próximo possível do gol deles, mas sem ser percebido. Em posição homens. – Instrui Billie.
Antes mesmos que os corvos consigam chegar em seus lugares soa o apito e começa o jogo, os garotos nem vêm que sai com a bola, quando Billie toma posição já vê Kevim se coçando e gritando com o time, Caique e Kiko também enquanto tentam marcar os adversários.
Mesmo com o pó de mico Kiko consegue costurar a defesa e fazer um gol abrindo o placar levando a quadra a baixo. O goleiro mostra bastante incomodo ele tenta se coçar mas as luvas o atrapalham, mas os três lasers no rosto incomodam bem mais, uma hora o coitado até tenta chamar o juiz mas nem escuta.
Mais ou menos aos cinco minutos de jogo Kevim está desesperado e se coça como nunca levantando estranhamento de Alice e de torcedores mais atentos, seu gesso está impossível de aguentar. Dentro de campo Caique e Kiko não estão muito diferentes e com todas as circunstâncias o goleiro também não está nos seus melhores dias.
Toda essa soma é igual a cinco a um no placar geral que é igual a vitória para o plano dos corvos. Depois do jogo os jogadores do time de Kevim nem voltam para sala, vão para enfermaria e depois levados para o hospital Evangélico.
Na saída os corvos estavam se matando de tanto dar risadas e foram para um mercadinho onde compraram um pacote de fandangos, um de doritos e uma coca cola bem gelada para comemorar a “vitória”.
Na casa de Billie a tarde...
- Maldito telefone, vou mandar cortar essa droga. – Diz Wanda toda brava andando de um lado para o outro, Tiago ri sentado no sofá vendo aquela cena. – Não ri não Tiago, é sério eu já estou ficando louca.
- Calma, você não perdeu a calma nem quando sua bolsa estourou e agora vai ficar histérica por algumas ligações.
- É que como o “grande” não está na cidade eu só fico dentro de casa e ouço o dia inteiro esse maldito telefone, coitados dos empregados.
- Olha só, acabei de achar o problema, você está muito em casa, vamos sair dar uma volta por aí, sem destino, sem hora pra voltar, vamos deixar os celulares em casa e vamos.
- Você está tentando me sequestrar rapaz? Saiba de eu sei me defender. – Diz Wanda indo até Tiago, chegando bem perto de seu rosto e o beijando.
- Bem que queria, mas acho que John gostaria de dar uma volta por aí também, nossa aventura de casal fica para depois. – Diz Tiago, ele beija Wanda. – Vou chamar o John.
- Tá, vou me arrumar. – Diz Wanda indo para o quarto.
Tiago desliga a televisão veste seu par de chinelos e vai para o quarto de seu filho. Tiago se sente bem na casa nova, e na vida em Curitiba, Wanda feliz o faz feliz, em sua cabeça a revolta de Billie com a mudança já passou, a final ele até já arranjou amigos.
- Filho, o que tá fazendo de bom? – Diz Tiago entrando no quarto de Billie, a porta está aberta.
- To tentando falar com a Tati, com o Samuel ou Pedro ou sei lá, qualquer um, um professor.
- Mas pra que isso?
- A pai, falei com a Tati ontem, ela estava estranha e estou preocupado.
- Bobagem filho, escuta, eu e sua mãe vamos sair...
- Bobagem? BOBAGEM? Eu não posso estar escutando isso, eu e a mamãe jogamos nossa vidas e nossos amigos por causa dessa promoção idiota de cargo que você teve e você tem a cara de pau de falar na minha cara que é bobagem?
- Não filho, bobagem dela, mulher é assim mesmo, tenho certeza que está tudo bem.
- Você não tem ideia do quão complicado tá sendo pra mim então por favor me deixa quieto.
- Filho eu sei que está sendo duro pra você mas a vida é assim mesmo, você vai ver daqui quinze ou vinte anos, as amizades e os relacionamentos que levamos para a vida toda praticamente não existem.
- Eu amo ela, eu ainda vou voltar pra São Paulo bem da grana e vou casar com ela.
- Tá, tá, chega John, vai se arrumar pra sairmos logo, encerrou o assunto.
- Não, eu não vou, podem ir, vou tentar falar com eles.
- Você que sabe, até depois. – Tiago sai do quarto do filho e se depara com Wanda prestes a entrar. – Nem entre, ele tá uma pimenta hoje. – Wanda prefere não se despedir de seu filho pois sabe que é melhor deixa-lo sozinho.
Na casa de Alice...
Alice anda de um lado para o outro, depois do jogo não viu mais Kevim, ela viu seu material na sala dos professores, sinal de que algo estranho aconteceu, ele provavelmente não voltou para sala depois do jogo. A garota não viu nenhum dos outros jogadores na saída também.
Alice se sente vazia, como dizem os mais antigos “mente vazia oficina do diabo”, não ter tomado sua dose de seu remédio chamado de Kevim Vase a deixa estranha, pior que nos outros dias, ela sabe que tem algo errado, ela queria saber como se “consertar” mas não tem ideia de como pode fazer isso, talvez a Dra. sabida e misteriosa pudesse a ajudar, mas como vencer a vergonha e ligar falar com uma estranha que viu poucas vezes e falar abertamente sobre algo que não sabe nem se realmente é um problema? Como se conserta algo nem sabe o que se quebrou?
Mais tarde em algum lugar de Curitiba...
- Tiago, sério, de todos os lugares que você já me levou, este é o mais peculiar.
- Sério amor? Esqueceu daquela vez no Peru?
- Aquilo foi legal, mas desta vez você se superou, o lugar mais aleatório que já vi. Isso que quando começamos a namorar rolou uns lugares cabulosos.
- Eu sempre gostei de te surpreender, lembra aquela vez em Nova Iorque?
- Como esquecer, achei que íamos para o Central Parque e você ne levou para Bad Style, aquele verão foi doido, como você conseguiu casar?
- Não sei, pergunte a si mesma, gosto de lugares estranhos então me casei com uma garota estra... Peculiar, isso, peculiar uma garota peculiar.
- Você ia me chamar de estranha não é senhor peculiar?
- Não, nunca. – Diz Tiago sorrindo.
- Acho que lugares assim devem existir em países como o México.
- Talvez, vou te levar conhecer um parque bem deserto que tem aqui do lado.
- Parque deserto? Interessante, mas te digo, quando me chamou para dar uma volta nunca podia imaginar que ia me levar para frente de um cemitério tomar caldo de cana em uma carrocinha.
- E você está adorando certo?
- Certo. – Diz Wanda sorrindo e abraçando seu marido.
- Imaginei que nunca o veria de novo Dr. Quando as pessoas dizem que o caldo de cana fica para próxima geralmente nunca mais os vejo. – Diz o velho vendedor sorrindo.
Na casa de Billie...
Billie está deitado na cama com a cara colada no travesseiro. Ficou boa parte da tarde encarando o monitor do pc mas ninguém o respondeu. Billie se levanta, sente sede e vai rumo a cozinha pegar um copo com água.
Quando Billie está no corredor ouve o barulho do msn e volta como uma bala para frente do pc. Alguém finalmente o respondeu, é seu melhor amigo Samuel.
- Olá rapaz, como está a vida na nova cidade?
- Samuca, bom falar com você irmão. – Escreve Billie, Samuel manda uma carinha sorrindo. – Desculpa falar assim, mas ontem falei com a Tati, ela me pareceu estranha, chorou pelo telefone, quero saber o que aconteceu? – Billie nunca tinha digitado tão rápido antes.
Samuel demora cerca de quarenta minutos para responder, completamente fora do habitual como Billie se lembra.
- Tudo normal. – Responde Samuel de forma seca.
- Mas ela estava estranha, você está estranho.
- Tudo normal, tenho que sair, até mais Billie.
- Por favor Samuca... – O por favor de Billie não adiantou de nada, a garoto fica off-line.
Billie encosta a cabeça no travesseiro com raiva, a sensação de impotência é enorme, Billie decide que algo que tem que ser feito. O garoto acaba pegando no sono e acorda com sua mãe acariciando seus cabelos.
- Filho, te trouxe uma garrafa de caldo de cana.
- Nossa, que horas são?
- 23:26h, já escovou os dentes?
- Ainda não, vou fazer isso. – Billie vai para o banheiro esfregando os olhos.
- Filho, eu te amo. – Diz Wanda com os olhos tristes pois pode sentir a tristeza de seu garoto.
- Eu também mãe. – Diz Billie.
Na manhã seguinte perto da velha árvore de uvas japonesas no colégio...
Estão os três corvos jogando conversa fora antes de bater o sinal da primeira aulas, Robert e Bernardo que estão mesmo conversando, Billie apenas ouve tudo de longe dentro da sua cabeça.
Jéssica aparece correndo no pátio em direção aos três amigos.
- Vocês não sabem o que aconteceu... – Diz a orelhuda toda ofegante.
- Bom dia pra você também linda, chega sem me dar nem um beijo. – Reclama Bernardo.
- Desculpa. – Jéssica beija o garoto. – O Kevim tá lá no pátio com os companheiros de time, pelo jeito foi feio, tiveram que tomar várias injeções e remédios. Suspeita de alergia ou até doenças mais sérias.
- HUHUUUUU, BELEZA, deu certo. – Comemora de forma exagerada Robert.
- Isso ae porra, agora eles aprendem. – Diz Bernardo.
Billie coloca a mão na boca e analisa aquela situação.
- E não é só isso... – Diz Jéssica.
Jéssica e os corvos vão para o pátio, não muito perto, ficam observando.
- Lá, reparem, tiveram que retirar o gesso do Kevim, falaram que foi muito feito, deu até feridas de tanto coçar. – Diz Jéssica apontando para o novo gesso de Kevim.
- Caramba tiveram que retirar o gesso, puta que pariu, foi feio mesmo. – Diz Billie de boca aberta.
- Senhores, somos gênios do mal, parabéns. – Diz Robert batendo os braços com seus amigos.
- Senhores e senhora você quer dizer, eu também to no meio senhor Merilyn Manson. – Diz Jéssica.
- Isso amor, minha malvadinha. – Diz Bernardo a beijando.
- Vamos até lá tirar um saro da cara deles. – Diz Robert indo e sua direção. – Kurt, me coça por favor, tá coçando, tá coçando.
- Coço sim, pode deixar, mas lembre-se de tomar banho para curar essa sua sarna. – Diz Bernardo.
Com Kevim só estão os jogadores do seu time, Alice, Bel e Aline.
- Foi essa merda de uniformes cheios de ácaros que esse idiota esqueceu de lavar. – Diz Kevim tremendamente puto.
- Que cara, já disse que não tem nada ver, eu mandei lavar um pouco entes. E tem mais uma, por que estamos dando satisfação pra esses manes. – Diz Caique.
- Vai se acostumando, viramos piadas para o colégio todo agora. – Diz Kevim.
- Na verdade, isso só afirmou o que já sabíamos. – Diz Robert.
- Em Manson, pensa, pô que mico, pô que mico, pôdi mico. – Diz Bernardo.
- Verdade Kurt, vamos nessa. – Diz Robert abrindo passagens pelo grupo de Kevim.
Todos passam dando risadas, Billie é o último a passar e para do lado de Kevim.
- Se eu fosse você jogava fora aquele taco que coloca no gesso, isso se ele for o mesmo que você usou ontem. – Cochicha Billie no ouvido de Kevim e continua seguindo seus amigos.
Kevim abre rápido a mochila e pega o talco, coloca um pouco na ponta dos dedos e espera até eles começarem a formigar e coçar.
- Pô que mico, pó de mico, foram aqueles filhos da puta, EU MATO ELES!!! – Diz Kevim.
No dia seguinte na saída do colégio...
Robert se despede de seus amigos corvos, coloca seus fones de ouvido e segue seu caminho sem perceber que duas pessoas estão o seguindo.
Quando passa quartos quadras de onde tinha deixado os corvos sente alguém o cutucando, ele se vira e vê Kevim e outro garoto que não conhece.
- Que porra é essa, as meninas querem uma intéra?
- Robert o piadista, queria te apresentar um grande amigo meu, Cadu, treina karatê, já ganhou alguns prêmios. – Diz Kevim, Cadu apenas observa com um sorriso estranho.
- Sem querer ofender, a, o que? Eu não ligo, faz o seguinte vão se foder os dois e até um dia tá? Vão pra puta que pariu. – Diz Robert dando as costas para os dois.
Kevim sorri e dá um sinal com a cabeça para Cadu que sorri de volta e vai até Robert acertando um chute em suas costelas fazendo o corvo mais velho e lutador de boxe tailandês cair no chão de dor enquanto Kevim o chuta e Cadu sobe em cima dele e começa a soca ló.
Naquele mesmo dia a noite na casa de Billie...
- Maldito telefone, não para. – Diz Wanda gritando com o telefone para variar. – Alô??? Por que você não diz nada??? – A ligação cai.
Wanda se acalma e tem como se um estalo em sua cabeça, ela encara a parede de sua casa. O telefone toca novamente, ela atende mas fica em silêncio até a ligação cair, ela pode escutar uma respiração do outro lado da linha.
Wanda aguarda mais um pouco até o telefone tocar novamente. Ela fica em silêncio por um tempo sem falar nada até decidir o que vai falar.
- Boa noite Alice, como está?
- Olá Wanda... – Responde a voz doce de menina do outro lado...
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