22. Três Pássaros No Fio e Uma Sereia Na Rede.
- Willian Jorge Chiaq.
- 25 de mai. de 2017
- 20 min de leitura
- Como via querida?
- Bem, quer dizer, não sei...
- Eu quero lhe ajudar Alice, é só você deixar.
- Você está brava comigo Wanda? – Pergunta a voz doce.
- De forma alguma. – Diz a Doutora sabida.
- Algumas pessoas me responderam mal em quanto tomava coragem para ligar, até ouvi xingamentos.
- Olha querida, me desculpe...
- Não se desculpe, eu entendo, não fui fácil, mas como despois de tanto tempo descobriu que era eu?
- O primeiro passo sempre é o mais difícil, agora que você conseguiu dar tudo ficará mais fácil, me deixe te conhecer e ajuda-la.
- Eu tenho um problema? – Pergunta Alice com um tom de dúvida esperando que Wanda diga que não.
- Acho que sim querida, mas podemos resolve-lo. Não é um bicho de sete cabeças... – Wanda está com um tom mais piedoso.
- Você pode me ajudar?
- Claro, eu vou te ajudar, precisamos nos encontrar. A Paulinha já entrou em contato com você?
- Não, por que? Ela deveria vir falar comigo?
- Ela me ligou hoje marcando uma reunião para falar sobre os vestidos e a campanha, provavelmente você também será convidada.
- Entendo. – Diz Alice em um tom meio vago.
- Você já falou com sua mãe?
- Sobre o que?
- Você sabe, sobre você...
- Não, e por favor, eu nem quero, não fale nada.
- Acha que psicólogo é coisa de gente louca não acha?
- Não é isso...
- Pode falar a verdade.
- Acho meio estranho mesmo, não acho que isso seja coisa pra mim.
- Todo mundo pensa isso de início, mas vamos fazer do seu jeito.
- Ótimo, então conversamos no dia da reunião?
- Pode ser, obrigado. Mas...
- Fale querida.
- É que não tenho como te pagar...
- Não estou exercendo a profissão de um jeito forma, logo não posso cobrar nada de você. Vamos chamar de conversa entre duas amigas.
- Obrigado Wanda, acho que vou desligar...
- Tudo bem, e da próxima vez que me ligar pode pedir para alguém me chamar, não fique envergonhada.
- Tudo bem, obrigada, boa noite Wanda.
- Boa noite Alice. – Diz a Wanda desligando o telefone.
A Dra. vai para cozinha pega um pedaço de melão e come com um sorriso no rosto, o caso de Alice parece interessante e ela fica instigada.
No outro dia de manhã o colégio...
- Fala Billie, beleza cara? – Diz Bernardo chegando no colégio abraçado com Jéssica seguida de Tito.
- Oie, tudo bem Billie? – Diz a orelhuda.
- Bom dia. – Diz Tito com seu ar de superioridade de sempre.
- Hã, e ai, beleza Kurt, dona Kurt, Tito? É isso. – Billie estava distraído com a cabeça em São Paulo.
- Isso mesmo. – Responde Tito.
- E qual a nossa próxima missão? – Pergunta Jéssica.
Billie a encara sério e depois olha para Tito.
- Tudo bem Billie, ela contou pra ele, já falei para guardarem segredo. – Diz Bernardo.
- Pode confiar em mim senhor, eu não tenho o costume de fazer delações. – Diz Tito.
- Então tá, mas aí vai a primeira regra das missões, nunca falar ou comentar sobre elas, ok? – Diz Billie em um tom sério e amedrontador mas sem deixar seu charme de lado.
Tito e Jéssica acenam com a cabeça.
- Entendi, “clube da luta”. – Diz Tito.
- Gatinha, será podem nos dar um tempinho pra mim e Billie conversarmos? – Pergunta Bernardo.
- Sim, até depois. – Diz Jéssica com seu sorriso encantador dando um beijo em Bernardo e saindo com Tito dando uma volta pelo pátio.
- Eu sei, isso está saindo do controle, mas você sabe, ela se envolveu e ele é o melhor amigo dela e ela teve que contar pra ele, foi mal irmão. – Se desculpa Bernardo.
- Melhor amigo? Você é o namorado, você é que tem ser o melhor amigo. Hum, eu não acredito em homem melhor amigo de mulher.
- Fala sério Billie, viu o jeito dele? Ele até parece que joga no outro time.
- Se você acha isso beleza, eu não facilito.
- Ok, vou ficar de olho. Mas e aí, o Manson já chegou.
- Pela hora não, ele sempre se atrasa e não vi nem sinal de vida dele.
- Mas até é bom que ele não tenha chego, to querendo falar com você um assunto um pouco mais sério.
- Fala ae.
- Cara, não te conheço tão bem assim, mas acho que está acontecendo algo com você, sei lá, parece diferente mais brabo. Quero que saiba que somos amigos e que pode contar comigo, sabe, desabafar.
- Obrigado Kurt, mas to de boa, sério, não se preocupe atoa.
- Eu acho que está mentido, mas se não quer falar não vou insistir, mas quando e se for falar comigo eu sempre vou estar aqui.
- ME SOLTA, VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO. – É a voz de Jéssica.
Bernardo e Billie correm seguindo o grito.
- É a Jéssica Billie. – Diz Bernardo.
- Sim parece ser sua voz. – Billie acompanha seu amigo.
Jéssica está a mais ou menos cinco metros do banheiro masculino, Caique está segurando seu braço com força e o goleiro também está perto. A garota parece estar fazendo força para se soltar mais não consegue.
- Escuta aqui eu sei que você pegou a mochila do nosso goleirão aqui ontem e misteriosamente suas mãos ficaram coçando. Sei que está envolvida e vai ter que me explicar tudinho garota. – Diz Caique visivelmente alterado.
- ME SOLTA GAROTO, AI. – Grita a garota.
- Cara ela está gritando muito, deixa quieto. – Diz o goleiro.
- Não, eu quero que ela explique ou me dê um beijinho. – Diz Caique curvando a cabeça para beija-la a força.
- SOLTA ELA!!! – Bernardo já chega com a mão no peito de Caique o empurrando pra longe, ele usa a mão com os dedos lesionados, esqueceu disso por alguns instantes.
Bernardo toma frente e Billie fica em sua retaguarda, Jéssica se solta e abraça Billie chorando. Bernardo já fica em posição de combate com a guarda aberta e os braços meio curvados para trás.
- VEM, FAZ O QUE QUERIA FAZER COM ELA COMIGO FILHO DA PUTA. – Diz Bernardo, Caique bate o braço com força no chão e sente um pouco mas se levanta rápido.
- EU SEI QUE VOCÊS ESTÃO ENVOLVIDOS.
- No que? Não sabemos do que você está falando, você está maluco cara? – Diz Billie, o goleiro faz um movimento meio rápido seguindo Caique. – E VOCÊ FICA DE BOA AÍ GOLEIRÃO OU VAI SOBRAR PRA VOCÊ TAMBÉM. – Billie e seu maldito tom ameaçador fazem o goleiro levantar as mãos e dar um passo para trás.
- EU VOU QUEBRAR VOCÊS DOIS SEUS MERDAS!!! – Diz Caique.
- VAI É, COMO ESTÁ O TRATAMENTO DO SEU NARIZ? SE QUISER JÁ FAÇO ELE VOLTAR PARA ESTACA ZERO NOVAMENTE, ACHO QUE VOCÊ VAI PULAR SOZINHO E MESMO KURT COM A MÃO DO JEITO QUE ESTÁ ACABA FÁCIL COM VOCÊ, IMAGINA EU AJUDANDO ELE. – Diz Billie encarando o goleiro que não esboça nenhuma reação.
Nesse momento Tito sai do banheiro e vê Jéssica chorando nos braços de Billie e corre para ampara-la.
- Meu Deus, o que aconteceu aqui? – Jéssica solta de Billie e abraça o amigo.
Billie toma frente do lado de Bernardo.
- Acha que estou brincando, pague pra ver. – Diz Billie com aqueles olhos de demônio focados em Caique. – Tirar satisfação com mulher é fácil né o arrombado?
- O QUE TÁ ROLANDO AQUI? – Diz uma voz de trás de Caique.
Aparentemente a cavalaria chegou, é Kevim, Kiko, Alice, Aline, Bel e mais alguns jogadores do time de Kevim.
“Droga, a nossa vantagem numérica acabou agora, Manson cadê você cara” – Pensa Billie sem mudar sua expressão facial.
- Caique está caçando confusão. – Diz Tito lendo bem a situação levando em consideração os gritos que ouviu.
- Isso é verdade? Por que isso agora Caique? – Pergunta Kevim.
- Você sabe, eu vou acabar com eles, vamos? – Propõe Caique.
- Mande seu homem recuar agora Kevim. – Diz Billie em um tom de exigência, Bernardo continua focado em Caique e tem que se segurar para não golpeá-lo.
- Não seguimos suas ordens, mas faça isso Caique, você está sendo muito deselegante e está nos envergonhado. – Diz Kevim.
Caique mal esboça reação.
- Faça isso ou vou lá falar para o diretor Caique. – Diz Tito.
Caique fecha os olhos e recua com raiva.
- Me desculpem a atitude impensada do meu amigo, estão sendo dias difíceis, sabe derrota, doença, remédios e exames. – Diz Kevim.
Kevim e seu grupo passam por Bernardo e seus amigos e seguem para outra parte do colégio, Alice passa e faz um carinho no braço de Bernardo. Depois de todos passarem Kevim volta até Billie e sussurra em seu ouvido:
- Se eu fosse você tomaria mais cuidado e ligaria para seu amigo de olho esbugalhado e cabelo oleoso. – Diz Kevim e sai de perto.
- Kurt, o Manson... – Diz Billie arregalando os olhos.
- O que tem ele? Vamos atrás desses caras, nós damos conta.
- To com um mal pressentimento cara... – Diz Billie.
O Choro de Jéssica atravessa a conversa interrompendo os dois corvos.
- Amor, tudo bem? – Diz Bernardo abraçando a orelhuda.
- Eu não sei o que teria acontecido se vocês não tivessem chegado, olha só meu braço. – Diz a garota mostrando seu braço que ficou com marcas vermelhas da mão de Caique.
O sinal toca, hora de ir para sala.
- Kurt, olho aberto, nos encontramos no recreio. – Diz Billie com um tom sério.
- Beleza, se cuida você também piá.
Na segunda aula...
- Olha pessoal vou entregar o teste de vocês, em sua maior parte foram bem. – Diz Helena professora de geografia na sala de Billie e Robert. – Ana, Suzana, Beatriz, Cleyton, Robert a propósito você tem que estudar mais, repetiu tantas vezes e... Ele não vem, esqueci. – Diz Helena em tom baixo.
- Professora se quiser posso entregar pra ele. – Diz Billie, ele escutou o que a professora disse.
- Não precisa, o pai dele vai vir aqui mais tarde, entrego pra ele obrigado John. – Agradece a professora.
- A por favor, meus amigos me chamam de Billie. – Diz o garoto com aquele sorriso que consegue quebrar um iceberg.
- É mas eu não sou sua amiga, sou sua professora.
- Você pode me chamar como quiser professora, te dou essa liberdade, você pode...
- HHHHUUUUUUUUUUMMMMMMMMM. – Faz a sala inteira deixando a professora meio sem jeito e vermelha.
- Então tá, venha aqui pegar seu teste John, quer dizer Billie. – Diz a bela professora de vinte e nove anos.
No recreio...
- Billie estrategicamente pede para ir no banheiro instantes antes de bater o sina e vai até a porta da sala de Bernardo para espera-lo. Sempre com seus olhos sérios e ferozes capazes de afugentar até a morte.
Após bater o sinal um aluno após o outro vai saído da sala e quando Bernardo sai abraçado com Jéssica Billie se junta a eles.
- Kurt, a gente precisa ter um papo. – Diz Billie.
- Beleza cara, Jéssica não quer ficar sozinha, vou pegar um lanche já conversamos de baixo da árvore.
- Não cara, eu vou com vocês. E o Tito?
- Ficou com as outras meninas, não quero ficar com elas hoje, estou assustada. – Diz Jéssica andando abraçada e com a cabeça encostada no peito de Bernardo.
- Beleza, vamos nessa. – Diz Billie.
Billie parece um guarda costas, sempre atrás do casal e com olhos atentos em tudo e em todos, Jéssica pega o lanche e todos vão para a porta do banheiro masculino, os meninos se revessam para não deixar a namorada de Bernardo sozinha. Depois finalmente vão para o lado de chão batido perto da árvore de uvas japonesas.
- Velho, aconteceu algo com o Manson. – Diz Billie sério.
- Claro que não, você não o conhece direito, ele é assim mesmo vem quando quer e falta quando dá na telha. – Diz Bernardo.
- Não cara, primeiro aquele papinho do Kevim e a professora disse que o pai dele vem no colégio hoje, ela sabia que ele não ia vir, provavelmente vai falar com o pai dele.
- Sério? O Roberto vai vir aqui, isso é raro, sempre se nega a vir no colégio, prefere resolver tudo por telefone. – Se espanta Bernardo.
- E a mãe dele?
- É de boa, quase nem liga pra ele, e não se importa com as advertências, parece que já está de saco cheio a muito tempo, ela não trabalha, já o pai dele é bem ocupado e acha esses problemas escolares perca de tempo.
- Que horas você acha que ele vem? – Pergunta Billie, Jéssica apenas observa.
- Cara, geralmente o diretor marca para bem cedo antes ou durante a primeira aula, mas acho que já que a professora disse que ele ia vir aqui provavelmente a tarde ou no final da aula. – Diz Bernardo
- Será que a professora dá aula a tarde?
- Acho que aqui não, por que?
- Ela disse que ia entregar o teste para o pai dele, provavelmente ele venha na hora de almoço depois da aula terminar, você o conhece?
- Conheço sim Billie, mas o que será que aconteceu? Será que descobriram a nossa armação e ele foi responsabilizado sozinho? Não seria a primeira vez. Será que ele foi expulso?
- Não, acho que aconteceu algo, ele pelo menos teria ligado.
- Vamos ligar pra ele então. – Diz Bernardo pegado o celular.
Ele tenta algumas vezes mas não dá em nada.
- Então? – Pergunta Billie.
- Nada, não atende. – Responde Bernardo.
- Como eu pensei, ele pelo menos teria mandado uma mensagem...
- O que fazemos agora? - Depois do sinal da saída vamos para porta da direção e esperamos o pai dele para perguntar.
- E a Jéssica?
- E eu? – Pergunta a orelhuda.
- Seu motorista vem te buscar? – Pergunta Billie.
- Sim vem.
- Então eu e o Kurt colocamos você dentro do carro e depois voltamos pra dentro, e Kurt, não demore, só você conhece ele.
- Pode deixar...
Na saída...
Billie guardou seu material antes de acabar a última aula e quando o sinal bateu mesmo sentando na última fileira de cadeiras da sala foi o primeiro a sair.
Billie toma frente e assume o papel de ir até Bernardo, ele acha que provavelmente Tito não é de briga e com os dedos quebrados Bernardo não teria condições de se defender sozinho de algo semelhante ao que aconteceu na entrada.
- Fala casal, vamos nessa. – Diz Billie já dentro da sala de Bernardo.
- Tchau Bê, até amanhã, qualquer coisa me liga tá. – Diz Alice se curvando para ganhar um beijo no rosto do amigo. – Tchau Jé, Tito.
- Até amanhã pessoal. – Diz Bel.
Alice não chegou perto de Billie, o ignorou completamente, parece ainda ter rixa com ele daquela vez da briga.
- Vamos sim, só espera que o Tito tá terminando de copiar a matéria do quadro. – Diz Bernardo.
Jéssica já está de mão dadas com Bernardo esperando Tito.
- Pronto, terminado. – Diz Tito fechando o caderno e guardado seus lápis no penal.
Eles saem da sala e Bernardo nem parece estar realmente atento, no fundo acha que Robert só está de frescura. Ao contrário de Billie que está parecendo o guarda costas da filha do presidente, algo lhe diz que aconteceu alguma coisa.
Os quatro já estão no pátio perto do banheiro.
- Aí Billie, na real, espera um pouco que tenho que ir no banheiro. – Diz Bernardo.
- Eu também preciso ir, quer que espere você voltar? – Diz Tito.
- Não, podem ir, eu fico com a Jéssica, mas não demorem muito. – Diz Billie.
Os dois entram juntos no banheiro e pelo portão do colégio então um homem gordo de estatura média, olhos arregalados, cabelo escorrido meio bagunçado aparentemente oleoso. Camisa polo azul claro, visivelmente gasta e até meio velha com algumas manchinhas amarelas e pingos de gordura, e o mais importante, é a cara de Robert mas mais velho, gordo e expressão séria.
- Jéssica você conhece o pai do Manson? – Pergunta Billie.
- Não, nunca o vi, por que? – Pergunta a orelhuda.
- Olha só aquele cara ali, não a cara dele? – Diz Billie apontando o dedo disfarçadamente para o homem que entra na diretoria.
Nesse momento Bernardo sai do banheiro.
- Kurt, acho que o pai do Manson chegou, ele é meio gordão?
- É, meio parecido com ele?
- Não Kurt, é totalmente parecido com ele, vamos esperar o Tito sair daí levamos vocês para o carro e voltamos falar com ele. – Diz Billie.
- Fechou. – Responde Bernardo.
- Pronto, vamos? – Pergunta Tito esfregando sua mão na camisa do uniforme para seca-las melhor.
- Vamos rápido. – Diz Billie totalmente acelerado.
Billie e Bernardo levam os dois até o carro e Billie ainda tem que dar uma dura em Bernardo para que ele pare de beijar Jéssica.
Novamente dentro do colégio e sentados no pátio focados na sala da direção onde ainda a pouco viram a professora de geografia entrar e sair o tempo passa e o suposto pai de Robert só sai da sala 12:26h.
- É ele Kurt? – Pergunta Billie.
- Sim, ele mesmo, vamos lá falar com ele. – Diz Bernardo.
Os dois corvos andam em direção ao homem e param na sua frente.
- O seu Roberto, tudo bem com o senhor? – Diz Bernardo estendendo sua mão para Roberto.
- Fala seu Bernardo, tudo bem com o senhor? - Diz o gordo respondendo o comprimento e fazendo o mesmo com Billie.
- Tudo, ein seu Roberto, por que o Manso... Quer dizer o Robert não veio pra aula hoje.
- Rapaz, ele não te contou? Mas bom, nem tinha como contar. Ele foi assaltado ontem a tarde, levaram o celular e o agrediram muito, quebrou uma costela e fraturou outra, tá internado no hospital, bom, agora acho que já recebeu alta, o médico disse que poderia ir para casa hoje pela manhã.
- Meu Deus. – Diz Billie pondo as mão na cabeça.
- Mas como foi isso? Está bem? Como??? – Bernardo não está pensando direito.
- Bom, ele tinha saído do colégio e estava indo para o tubo daí os caras, dois, o abordaram e deram voz de assalto, não sei se ele tentou fugir ou reagir, mas pegaram ele e deram uma surra feia. Ele ficou bastante sedado então não conversamos muito, ele não conseguiu. Um vigilante que estava fora de horário de serviço que passava na hora e mais umas pessoas que separaram mas não conseguiram segurar os assaltantes e depois chamaram a ambulância. Bom, mas não sei, acho que ele ondou brigando na rua outra vez e os caras voltaram para se vigar. Conheço meu filho, não é flor que se cheire, mas dessa vez foi sério.
- Tem como a gente ir ver ele? Sabe para saber como ele está? – Pergunta Billie.
- Bom, podem aparecer, você já conhece nossa casa Bernardo, pode ir você também, vai com ele. – Responde Roberto.
- Sim, pode deixar seu Roberto, obrigado. – Agradece Bernardo.
- Bom, agora tenho que voltar para o trabalho, até a próxima meninos. – Diz o pai de Robert estendendo a mão aos meninos. – A propósito, me chamo Roberto, e você?
- Eu me chamo John mas pode me chamar de Billie.
- Bom, muito prazer, até mais meninos. – Diz o homem tomando o rumo do portão.
- Cara, você escutou isso? O Manson foi assaltado. – Diz Bernardo ficando de frente para Billie.
- Não sei cara, tem algo mal contado nisso. – Diz Billie pensativo.
- Essa cidade tá um absurdo mesmo, não dá para facilitar.
- Kurt, se ele foi assaltado, como Kevim ficou sabendo, tá muito estranho.
- Sei lá Billie, talvez ele estivesse passando na hora e viu tudo, não sei. – Diz Bernardo. – E tem mais uma, por que ele roubaria o celular dele, Kevim tem condição de comprar qualquer celular, o pai dele tem grana.
- Faz sentido, mas lá em “Sampa” já vi isso, talvez possa ter pegado o celular como troféu.
- Piá, vamos pra casa dele, assim ele conta o que houve.
- Boa ideia, vamos nessa Kurt, não vamos nos separar, vamos almoçar lá em casa e depois vamos direto.
- Beleza Billie, só deixa eu ligar avisando minha mãe. – Diz Bernardo pegando o celular do bolço.
Na casa de Alice...
A “pobre garota rica” chega cabisbaixa em casa, mais um dia, chegar em casa, almoçar e começar a tortura.
Alice abre a porta principal, deixa sua mochila em seu quarto, tudo sempre muito atenta, olhando para os lados e coração a mil por hora. Depois vai para a cozinha onde sua mãe está almoçando.
- Filha, que bom que chegou, tenho uma ótima notícia, a Paulinha ligou, vai ter uma reunião com as modelos amanhã a tarde e você está convocada.
- Legal mãe. – Alice não está surpresa, Wanda tinha razão.
- Nossa, você uma modelo, não posso esperar, vamos nos divertirmos tanto.
- Espera, nós? Eu quero ir sozinha, já tenho idade suficiente para isso. – Diz Alice.
- Ai filha, deixa de boba, é o sonho de toda mãe ver sua filha de bailarina ou modelo e não tem a mínima possibilidade de eu não acompanhar você.
- Mas mãe....
- Não, não, nada de mais mocinha, já está decidido. – Diz Norma em um tom mais firme.
Alice fica desapontada pois agora seu encontro com Wanda está arruinado.
Um pouco mais tarde em um ônibus em Curitiba...
Depois de terem almoçado Billie e Bernardo estão como qualquer jovens em um ônibus, sentados na última fileira de acentos. Bernardo na janela e Billie a seu lado.
Bernardo ficou chocado com o acontecimento, logo Robert que já luta a tanto tempo não teve como se defender, imagina se fosse com ele, ainda mais com aquela mão naquele estado. Falando na mão, Bernardo havia se distraído com a paisagem mas sua mão começou a doer bastante, resultado do confronto com Caique mais cedo.
Billie está distante, provavelmente não tem o que fazer sobre Tati, não por em quanto, isso não quer dizer que ele vá desistir de tentar falar com alguém. Ele pensa em Kevim e em Robert, e o que isso tem em comum, seu faro de detetive não tira da cabeça que ele tem alguma coisa a ver com isso.
Logo eles descem do ônibus e depois de algum tempo de caminhada e conversas sem importância jogada fora eles chegam a casa de Robert, é uma linda mansão as beiras do parque Tanguá, dá para ver as torres e a cascata de sua casa.
A empregada os recolhe e os leva até o quarto de Robert. Ele está deitado, parece estar fazendo força para respirar, Billie e Bernardo chegam bem perto da cama.
- Manson, está acordado??? – Pergunta Bernardo, seus olhos estão trêmulos.
Robert mal se mexe, demora um pouco até ele conseguir virar a cabeça e olhar para seus amigos, sua expressão facial está horrível, em quanto ele vira a cabeça seu rosto tem vários espasmo de dor.
- Como você tá cara, consegue falar? – Pergunta Billie que está muito impressionado com aquela situação.
Robert abre sua boca mas sua voz não sai, é angustiante ver ele querendo falar mas não conseguir.
- Fala desgraça, tá com a boca cheia porra. – Diz Bernardo, ele espera que tudo seja uma brincadeira de Robert.
O corvo deitado na cama abre um sorriso esposando uma risada mas antes de sua boca formar um sorriso ela já se contorce de dor e uma lágrima sai de seu olho esquerdo e corre pelo seu rosto.
A cena deixa Billie tremendamente abalado e não consegue mais disfarçar, ele está com um olhar de piedade.
- N, nn, na, não é voluntário. – Diz Robert com muita dificuldade e bastante ofegante.
- Manson... O que cara??? – Pergunta Bernardo.
- Kurt, acho melhor irmos pra casa, ele não está em condição de falar...
- Nãaaao, não vãããu.
- Cara, fiquei quieto, não se esforce. – Diz Billie.
- Não Manson, Billie tem razão, já vimos como está, melhor deixa-lo descansar.
- Vô, vô... Voucêis... Sao oss próximos. - Diz Robert de forma arrastada.
- O que??? – Pergunta Bernardo.
- O que isso significa Manson??? – Pergunta Billie.
Robert faz uma grande expressão de dor esbugalha os olhos.
- Adeus... – Robert joga cabeça para o lado como todo ator faz quando morre nos filmes.
- MANSOn??? MANSON!!! – Bernardo se descontrola, Billie fica sem ação.
Bernardo coloca as mãos em Robert e o chacoalha.
- Para caralho, tá doendo pra porra. – Diz Robert.
- MANSON??? Você tá vivo cara??? – Pergunta Bernardo todo assustado.
Billie dá risada ao ver que Robert não está tão ruim assim.
- Não, virei o Gasparzinho. Agora me solta que to todo fudido, tá doendo até pra respirar.
- Você é um retardado, pra que fazer isso. – Diz Bernardo.
- Soldado, deveria ter me avisado que eu tinha filmado Kurt. – Diz Billie.
- Nem pensei nisso Billie, é uma ideia. – Diz Robert.
- Da próxima vez que você levar uma surra quem sabe? – Diz Billie.
- Cara isso nunca mais vai acontecer, eu pisei na bola, dei bobeira, guarda baixa, espera, você tá chorando Kurt???
- Não nada ver, é só alguma poeira que entrou no meu olho. – Diz Bernardo chorando, ver ao amigo naquele estado e agora ver que não está tão mal o tranquiliza.
- Sei...
- Manson, continue, o que aconteceu? – Pergunta Billie.
- Foi o Kevim e mais um cara, eles me surpreenderam e falaram alguma coisa, não entendi nada, estava de fone, acabei os xingando e meu erro foi dar as costas pra eles, me acertaram por trás, primeiro na costela, quando cai no chão começaram a me chutar.
- Filhos da puta, vou pegar eles. – Diz Bernardo.
- Melhor dar um tempo Kurt, eles me pegaram sozinho em dois, duvido que venham atrás de vocês no mano a mano e você não está 100% com essa mão desse jeito.
- O cara que estava com Kevim, você o conhecia? – Pergunta Billie.
- Talvez de algum lugar, não me é estranho mas não é tão familiar, não do colégio disso eu tenho certeza. – Responde Robert.
- Eles pegaram teu celular? – Pergunta Bernardo.
- Não tenho certeza, ele estava no meu bolso, acho que deve ter caído quando fui pra lona. Não sei, foi tudo tão rápido, quando me dei conta já tinha um cara com roupa de vigilante separando a briga e afugentando os dois, depois veio uma multidão, várias pessoa me cercaram até a ambulância chegar.
- Por que você disse que tinha sido um assalto? Poderia fazer um B.O. – Pergunta Bernardo.
- Porque se fizesse isso eles poderiam denunciar você e Billie daquele lance da briga, Billie quebrou um braço e dois narizes, isso não ia terminar bem.
- Obrigado por isso irmão. – Diz Billie com seus olhos brilhando.
Billie nunca podia imaginar que Robert poderia ter aquele raciocínio e o fato de o proteger o fez subir no seu conceito.
- Manson, isso não ficar assim cara. – Diz Bernardo.
- Tá bom chorão, agora é o seguinte, fiquem espertos que eles podem vir atrás de vocês também, e tem uma coisa, se minha empregada dizer que tem uma garota aqui que veio me ver vocês dois somem, liguei pra menina do parque e disse que estava mal, acho que ela vem me visitar.
- Aquela bruxa que não existe??? – Pergunta ironizando Bernardo.
Billie ri.
- Manson, na verdade vieram atrás da Jéssica hoje. – Diz Billie.
- Da senhora orelha? Como foi? – Pergunta Robert.
- Senhora orelha nada... – Retruca Bernardo.
Mais tarde na casa de Bernardo...
Bernardo não se conforma do que aconteceu com seu melhor amigo, algo deve ser feito, pura covardia de Kevim. Se ele estivesse junto isso talvez não acontecesse, e agora, como vai ser?
Robert fora por alguns dias, sua mão dolorida, sua namorada para se preocupar em proteger...
Billie cuidando de todos...
NÃO!!! Não é hora de se acovardar, é hora da virada, reação, ele e Billie tem que ir com tudo para cima de Kevim, isso não pode passar em branco.
- Filho, estou aqui para ver você tocando... – Diz uma voz fraca entrando no seu quarto, é Ana.
- Não quero tocar hoje mãe, não estou bem. – Diz Bernardo com a cara fechada, borbulhando de raiva por dentro.
- Você se senti mal? Quer um remédio? Algo está doendo?
- Ana leva sua mão magra para testa e rosto de Bernardo para sentir sua temperatura.
Bernardo afasta a cabeça, se vira para o lado dando as costas para sua mãe, ele fica todo emburrado.
Ana, está preocupada, os dias tem sido maravilhosos, desde a visita de Wanda ela vai todo dia para o quarto de Bernardo para ouvi-lo tocar, ela não gosta muito mas o vê feliz, seu marido foi apenas uma vez vê-lo por alguns poucos minutos, só ela o incentiva.
- Filho, está me deixando preocupada, fala comigo, quer que a mãe traga um remédio? Ou que tal um taça de sorvete pra gente?
- Mãe, eu só quero ficar sozinho...
- A filho, vamos lá, me mostra como está na guitarra. – Diz Ana acariciando suas costas.
- EU JÁ DISSE QUE NÃO TO BEM, ME DEIXA QUIETO POXA. – Diz Bernardo se virando rápido para, sua mãe.
Ana se assusta e dá um leve pulo para trás, Bernardo se vira dando as costas para ela novamente.
Depois de mais alguns instantes de silêncio ela finalmente sai do quarto com lágrimas nos olhos. Bernardo deitado em sua cama, escuta o barulho do telefone tocando, ele nem se importa, mas sua mãe volta para seu quarto.
- Eu já disse que quero ficar quieto. – Diz Bernardo em um tom mais ríspido.
- Filho, Jéssica está no telefone querendo falar com você. – Diz Ana com o telefone sem fio nas mãos.
Bernardo estende as mão para pegar o aparelho mas sua mãe volta a falar com Jéssica rapidamente.
- Ele está aqui, vou passar pra ele... Apareça aqui em casa... Um jantar para as famílias se conhecerem? Ok falaremos sobre isso outra hora, tchau. – Se despede Ana entregando o telefone na mão de Bernardo.
- Gatinha...
- Boa noite Kurtzinho, estava pensando em mim? – Diz a voz doce de menina do outro lado da linha.
- Não, eu estava pensando no Manson e... Pensando melhor estava pensando em você também sim.
- Conseguiu falar com o pai dele?
- Melhor eu e o Billie fomos para a casa dele, foi tenso, Kevim e outro cara pegaram ele, o machucaram bastante gatinha.
- Meu Deus, como foi isso?
- A gatinha, a merda é muito longa, não quero falar mais disso, estou com a cabeça muito cheia...
- Nossa Bernardo, eu estou me preocupando com seu amigo, quer disser, nosso amigo e é assim que o senhor me trata? Vou desligar, tchau!!!
- Não gatinha por favor não faz isso, me desculpe, só estou de... Cara, vou falar a verdade, isso tudo é um saco, essa merda com Manson. – Diz Bernardo quase chorando, Jéssica sorri do outro lado da linha.
- Kurt, sou sua namorada, fala comigo amor.
- Retaliação, foi isso, espancaram o coitado como resposta ao pó de mico, eu, Billie e até você... Podemos ser os próximos...
- Eu??? – Jéssica gela do outro lado.
- Não, caramba eu só falo merda mesmo, você não, eu não vou deixar, eu vou cuidar de você, eles não são nem loucos...
- BERNARDO, ME CONTA AGORA TUDO!!!
- Gatinha...
- E O TITO, MEU DEUS ELE, TENHO QUE AVISA-LO, ACHA QUE PODEM FAZER ISSO COM ELE TAMBÉM?
- Jéssica, não, fica calma, ele não corre riscos, ele não estava envolvido nessa história, se acalma que eu vou te explicar tudo...
No dia seguinte no colégio...
Bernardo chega cedo, não vê nem Jéssica ou Billie por perto, ao passar pelo pátio avista Kevim e seu grupinho sem Alice ou alguma garota com eles. Bernardo fica com receio de passar por eles mas levanta a cabeça e segue seu caminho.
Ao passar pelo grupinho começam as provocações.
- Kevim, vamos almoçar lá em casa, hoje vai ter costelas de porco. – Diz Caique.
- Só se for bem quebradinhas, parece que ficam mais macias, sabe gosto de quebrar elas, mas Kiko, já assistiu aquele desenho Doug? Qual era o nome do cachorro dele mesmo?
- Não lembro, Queixo Quebrado?
- Não, Costelinha. – Responde Kevim.
Os risos começam alto se tornando gargalhadas, Bernardo já passou por eles mas para no meio do caminho, fecha os punhos e se volta andando rápido e pisando firme para o lado de Kevim.
Jéssica o observa junto com Tito de baixo da velhas árvore de uvas Japão...
Mais tarde na reunião de Paulinha Pagins em seu ateliê...
As compradoras/modelos ficam espalhadas, quase todas já chegaram, falta apenas Alice.
Wanda conversa com Ana, Charí está mexendo em seu celular do lado da sua cunhada que a acompanha, Daniele está sentada com Mariane em seu colo.
Chega Alice entrando pelo ateliê, Wanda se põe em pé na sua frente estendendo a sua mão.
- Olá Alice...
- Oiii, boa tarde meninas, chegamos. – Diz Norma sorrindo com as mãos nos ombros da filha.
Alice olha para Wanda com uma cara de vergonha, ela fica sem jeito, Wanda devolve com um olhar de surpresa e depois de análise.
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